De em junho 30, 2012
Texto escrito há 30 anos e que traz em seu posfácio o desejo da escritora Marguerite Duras em vê-lo transposto ao palco, A Doença da Morte acaba de estrear no Teatro Augusta e é extremamente contemporânea, pois põe a nu o amor entre um homem e uma mulher. Num momento em que se vê as pessoas evitando qualquer tipo de vínculo mais íntimo, não se permitindo amar, a peça de Duras vem para questionar ainda mais este tipo de atitude egoísta.
Com tradução de Vadim Nikitin, direção e iluminação assinadas por Marcio Aurelio, a montagem começa com o casal separado fisicamente: o homem, interpretado por Eucir de Souza, está no palco, sentado numa cadeira colocada em cima de uma grande mesa e a mulher, vivida por Paula Cohen, está na extremidade oposta, no final da plateia. Enquanto ele discorre sobre a circunstância complexa de seus sentimentos, ela desce pela plateia repetindo o que está sendo dito pelo homem, mas ao mesmo tempo questiona sua postura. O embate amoroso entre os dois é o mote central da peça e praticamente da obra de Marguerite Duras:
Optamos por montar este texto porque hoje a cada dia fica mais difícil a comunicação entre as pessoas, distanciadas pela concisão discreta e impessoal das mensagens eletrônicas. E, claro, porque a autora privilegia o amor. Em sua poética de destroços, ela provoca situações de disjunção entre sons, imagens, intenções. Entre o que se sente e o que se consegue, ou não, dizê-lo”, argumenta Lulu Librandi, produtora e realizadora do projeto.
Numa passagem fundamental da peça a mulher define que o homem sofre da doença da morte; ele fica perturbado com esta constatação, mas não tem como contestá-la. Fiquei igualmente perturbado: que doença é esta de que o Homem sofre? Não seria a doença de fugir de si mesmo, de seus sentimentos mais profundos e sinceros? Não seria a morte evitar e se distanciar do Amor? A doença da morte não seria o desamor?
Num mundo em que a comunicação virtual e a tecnologia da comunicação cada vez mais afastam ao invés de aproximarem as pessoas, num mundo em que o sexo banalizou as relações íntimas e cada vez mais as pessoas não se entregam verdadeiramente umas às outras, Marguerite Duras vem com A Doença da Morte instigar ainda mais a reflexão sobre a importância do amor na vida de todos nós.
Saí da sala de espetáculo zonzo e ao mesmo tempo motivado a redigir esta resenha provocativa: até que ponto estamos contaminados com a doença da morte? Que antivírus tomar contra este mal disseminado na sociedade contemporânea?
Fotos: Vania Toledo
4 Comentários
eucir
julho 2, 2012 @ 00:23
Querido Maurício! Muito legal o seu texto! muito obrigado por ter ido, por se deixar tocar e por ter escrito. Sim! A doença da morte é o desamor e hoje vivemos uma epidemia mundial… em maior grau ela é a tirania, a corrupção… em menor grau todos temos um pouquinho dentro de nós… Que viva Marguerite e que o seu texto nos ajude a encontrar a cura!!!
Maurício Mellone
julho 2, 2012 @ 11:43
Eucir:
Que juntos possamos encontrar a cura para tanto desamor!
Muito obrigado pela visita e sucesso com o espetáculo!
Parabéns por sua interpretação tocante e emcionada!
abr
ruy dealis
julho 1, 2012 @ 15:06
Obrigado pela presença Mauricio. Linda e sutil analise do espetáculo. Espero ter sempre você por perto.
Maurício Mellone
julho 2, 2012 @ 11:44
Ruy, querido:
q bom q vc gostou da resenha!
Obrigado pela visita e conte sempre com meu apoio!
bjs