De Maurício Mellone em maio 21, 2013
Para um texto inédito e experimental como Invasor(es), de Beatriz Carolina Gonçalves, nada melhor do que o Espaço Cênico, do SESC Pompeia, que comporta plateia de no máximo 50 pessoas. Ao entrar, o público já é envolvido no clima tenso que a peça propõe: os atores Paula Cohen e Joca Andreazza estão em cena, com uma iluminação tênue, e suas falas não têm ligação imediata, cada um divaga e discorre sobre sua visão do problema. Aos poucos o diálogo começa a se encaixar e o espectador percebe que por traz do drama particular daquela mulher e daquele homem há uma questão social mais premente: a luta pela posse da terra. Além da defesa da propriedade onde moram, os personagens também questionam a relação de posse e interdependência entre eles.
A grande discussão da peça é sobre quem é o verdadeiro invasor daquela propriedade: os trabalhadores, descendentes de índios que foram expulsos e dizimados e que agora querem recuperar suas terras ou o fazendeiro que se apropriou da região expulsando os moradores nativos, os índios, há tempos remotos.
No entanto, estas relações trabalhistas e sociais vêm à tona por intermédio da difusa e interdepende relação entre os dois personagens — eles são irmãos ou formam um casal? Dúvida lançada pela autora que o espectador deve decifrar no decorrer da trama.
“O espetáculo, embora trafegue por questões sociais urgentes, também alcança, por gravitação inevitável, questões psicoanalíticas ligadas à posse e à proteção daquilo ou daqueles que supostamente nos pertencem”, explica o diretor Roberto Alvim.
Numa encenação minimalista, em que os atores se deslocam pausadamente e os diálogos são de forma fragmentada e com vazios que devem ser preenchidos pelo espectador, Invasor(es) incita a plateia a refletir sobre os conflitos suscitados, tanto os concretos e palpáveis como os subjetivos:
“Nossa ambição com esta encenação é instaurar uma obra de arte de lastro político, que no entanto não se esqueça dos discursos do inconsciente. A encenação ilumina os complexos movimentos que correm por baixo de nossas ações, expondo a dimensão política como tradução dos vetores contraditórios e incompreensíveis de nossos desejos”, conclui o diretor.
Espetáculo denso e reflexivo, que faz com que o público saia da sala de exibição com indagações sobre quem é o invasor, proposto pelo título da peça, e de que invasões a autora se refere. Destaque para a direção e concepção do espetáculo de Roberto Alvim e a interpretação visceral de Paula Cohen e Joca Andreazza, que estão em sintonia magistral em cena.
Fotos: Arnaldo Pereira
Deixe comentário