De Maurício Mellone em setembro 12, 2022
No ano em que se comemora o bicentenário da independência do Brasil, o filme da diretora Laís Bodanzky, A Viagem de Pedro, em cartaz no Cinema da Fundação, propõe um olhar diferenciado para a figura do primeiro imperador do país, Dom Pedro I, interpretado por Cauã Reymond.
O roteiro assinado por Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi e Chico Mattoso se restringe aos dois meses do ano de 1831 em que Pedro, numa fragata inglesa, retorna a Portugal com o objetivo de reaver o trono que seu irmão Miguel havia usurpado. Há pouca informação histórica sobre este período da viagem, mas Pedro embarca depois de ter abdicado do trono brasileiro em favor de seu filho de 5 anos, Dom Pedro II. Odiado pela população brasileira, atormentado pela morte da primeira esposa, Dona Leopoldina, doente e em crise, o ex-monarca viaja com seus fantasmas e em busca de si mesmo.
O filme começa com Pedro e sua segunda esposa, Amélia (Vitória Guerra), embarcando na fragata inglesa, ao som de gritos e desaforos dos brasileiros, que o acusavam de covardia e traição. Aconselhado pelo capitão inglês por questão de segurança, Pedro faz com que sua filha (futura rainha de Portugal) desça e embarque em outra fragata.
É neste clima hostil e tenso que a viagem tem início. A bordo estava uma verdadeira babel, constituída de membros da corte, oficiais e a tripulação inglesa, serviçais e escravizados, o que não contribuía para o sossego do ex-imperador, pelo contrário. Para complicar ainda mais a situação, na longa e difícil travessia do Oceano Atlântico e sentindo-se enclausurado, Pedro passa a conviver com seus dilemas e fantasmas (reais e imaginários), como os embates com seu irmão que o acusava de traidor de Portugal, o remorso e culpa pela morte de Leopoldina, que morreu após um aborto, e o sofrimento de deixar para traz a família e o país que escolheu para viver.
A diretora optou por tomadas fechadas, com pouca iluminação, num ambiente claustrofóbico para melhor retratar este momento conturbado da vida do imperador. A trama praticamente se passa no universo psicológico do personagem, o que dificulta a compreensão e o foco da trama. Há ainda temas sugeridos e pouco explorados, como a impotência sexual de Pedro e o que isto acarreta em seu desempenho, as questões da cultura africana e o sofrimento dos escravizados e a relação de Pedro com as mulheres.
Saí da sala de exibição com a sensação de que Laís Bodanzky — diretora de grandes filmes, como Bicho de sete cabeças e o premiado Como nossos pais — diante da falta de informação histórica sobre a volta de Pedro a Portugal, resolveu mostrar outras facetas desta personalidade histórica e teve dificuldade na execução do roteiro. Porém, Cauã Reymond, diante de um personagem tão complexo, tem uma grande atuação. Confira, inclusive para ampliar a visão sobre o primeiro imperador do Brasil.
Fotos: divulgação
2 Comentários
José Pina
setembro 16, 2022 @ 22:12
Amei a crítica ❤️
Maurício Mellone
setembro 19, 2022 @ 11:17
Pina, querido:
saudades de vc.
Fico feliz q tenha gostado da crítica:
vá conferir. O Cauã, além de muitoooo bonitoooo,
é talentoso e é o produtor do filme (investe, o q é
muito bom)
Volte sempre
Beijos, querido