De Maurício Mellone em setembro 5, 2022
“Confiança e entrega é o que é o palco pra mim. Vai e voa!”
Esta declaração emocionada sobre a relação com o palco é uma das primeiras de Maria Bethânia para o documentário de Carlos Jardim, Maria- ninguém sabe quem sou eu, sobre sua carreira e sua vida.
O filme acaba de estrear — no Recife está em cartaz no Cinema da Fundação — e traz a cantora baiana sentada no centro do palco do teatro do Hotel Copacabana Palace, onde, num depoimento exclusivo ao diretor e roteirista, discorre sobre os momentos marcantes da carreira, a relação visceral com o palco, suas paixões literárias, como Fernando Pessoa e Clarice Lispector, seus mestres e diretores, além de confessar seu amor aos pais, Dona Canô (Claudionor Viana Teles Veloso) e Seu Zezinho (José Teles Veloso) e ao irmão, o cantor e compositor Caetano Veloso.
O documentário é uma grande entrevista com Bethânia, não há depoimentos de outras pessoas, e traz textos sobre ela, lidos por Fernanda Montenegro, de autores como Ferreira Gullar, Caio Fernando Abreu, o jornalista Nelson Motta e o diretor Fauzi Arap.
O filme começa com a chegada de Maria Bethânia ao teatro, com pequenas cenas de bastidores, e logo ela aparece sentada no palco falando de coração aberto ao diretor Carlos Jardim. Ele pouco interfere (uma única vez ouve-se a voz dele para reforçar a pergunta), mas tem uma atuação fundamental: as falas de Bethânia são intercaladas com cenas de shows e de ensaios (cenas raras), que se juntam de maneira harmônica e complementar. Ao falar de como vê o palco como algo sagrado, a cena seguinte é de um show em que esta reverência fica explícita.
As cenas das apresentações, incluindo os ensaios que ela ressalta a importância, são de várias épocas da carreira. Ela fala desde o início, quando foi indicada por Nara Leão para substituí-la no lendário Show Opinião (que atuava com Zé Ketti e João do Vale), seus grandes sucessos, como o álbum Álibi/1978, primeiro disco de uma cantora brasileira a vender mais de um milhão de cópias, Chico Buarque & Maria Bethânia/1975até trabalhos marcantes como A beira e o mar/1984, As canções que você fez pra mim/1993, A força que nunca seca/1999 e os mais recentes Mangueira- a menina dos meus olhos/2019 e Noturno/2021.
No entanto, o documentário, mais do que registrar a carreira de sucesso e os hits da cantora, revela várias facetas de Maria Bethânia, como seu rigor e exigência com a equipe de trabalho, seu bom humor, seu fascínio pela literatura e seu amor incondicional à Dona Canô e a Caetano Veloso:
“Caetano é mestre do meu barco, desde que nasci.”
Durante toda a projeção, o diretor também mescla, entre as falas de Bethânia, os textos lidos pela atriz Fernanda Montenegro dos autores que enaltecem a artista de Santo Amaro da Purificação/BA. Confesso que, como fã de Bethânia e admirador da música brasileira, fiquei emocionado de poder assistir a um retrato de uma artista que estreou aos 17 anos e hoje aos 76 mantém o mesmo brilho no olhar e a mesma garra ao interpretar as canções que retratam o Brasil e o seu povo. O filme registra a carreira de sucesso de uma grande cantora e ao mesmo tempo revela uma mulher sensível e atenta a sua trajetória de vida. Como aperitivo, fique com a interpretação de Bethânia para Oração ao Tempo, de Caetano Veloso:
Fotos: divulgação
2 Comentários
Adriana
setembro 5, 2022 @ 20:32
Que maravilha!! Nossa, viajei no tempo recordando algumas das músicas dela. Resenha maravilhosa, Ma!!
Maurício Mellone
setembro 6, 2022 @ 10:59
Adriana,
muito obrigado, minha amiga.
Fiquei emocionado em vários momentos da exibição,
ao escrever aconteceu o mesmo (as músicas nos transportam
no tempo). Que bom que consegui transmitir este sentimento
na resenha!
Vc vai amar o documentário do Carlos Jardim.
Beijos e obrigado por estar sempre presente por aqui.