Exposição comemora os 100 anos de nascimento de João Cabral de Melo Neto

“E não há melhor resposta que o espetáculo da vida”
João Cabral de Melo Neto

Antes de entrar à exposição Afinal, o que é poesia?, o visitante já se depara com esta frase motivadora, que o conduz ao universo do escritor, poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto.

Com dois anos de atraso em razão da pandemia, a mostra, com curadoria de Inez Cabral, filha do poeta, presta uma homenagem aos 100 anos de nascimento de João Cabral, que nasceu no Recife em 9 de janeiro de 1920. Com fotos e vídeos, a vida e a obra do escritor são apresentadas por ele mesmo, por meio de seus poemas e textos em prosa. A exposição, que acaba de ser aberta no Museu Cais do Sertão e permanece em cartaz até final de novembro, conta ainda com uma sala imersiva, com projeções e poemas de João Cabral.

Meu olhar ainda é de um ‘estrangeiro’: paulistano e morador do Recife há oito meses, foi a primeira vez que estive no majestoso Museu Cais do Sertão. Para se chegar à mostra do poeta, o visitante passa pela exposição fixa que homenageia Luiz Gonzaga, o rei do baião. Começa aí a imersão à cultura nordestina! Já no segundo andar, a recepção é com um vídeo curto, em que Inez Cabral explica que a intenção foi mostrar um lado de seu pai menos conhecido, mas tudo por meio dele mesmo, com acervo fotográfico pessoal e com textos e poemas do escritor.

João Cabral como diplomata trabalhou em várias cidades

“Eu escrevo com dificuldade. Mas, a mim, não me irrita só escrever com dificuldade. Se, um dia, eu escrever com facilidade deixarei de escrever de vez.”

“Escrevo como quem
 constrói uma casa.”

O visitante, então, começa o mergulho à vida e obra de João Cabral por meio de uma grande linha do tempo, que traz fotos, dados e informações desde o nascimento do poeta, passando por sua infância e adolescência no Recife, onde jogou futebol nos clubes América, Torre e Santa Cruz, passando por sua mudança para o Rio de Janeiro, seu ingresso no Instituto Rio Branco, até o detalhamento das fases de sua carreira como diplomata, com sua passagem por diversas cidades pelo mundo, como Sevilha/Espanha, Londres/Inglaterra, Marselha/França, Berna e Genebra/Suíça, Barcelona/Espanha, Porto/Portugal, Assunção/Paraguai, Quito/Equador e Tegucigalpa/Honduras.

“Não acredito em inspiração, acredito no trabalho. Viajar abre os horizontes. Se eu não tivesse sido diplomata, minha poesia era completamente diferente.”

Linha do tempo: fotos e dados da vida do poeta

Depois de percorrer a linha do tempo, na parede em frente, há discos que o poeta gostava, além de LPs com registros de suas poesias e o álbum com as canções de sua obra mais famosa, Morte e Vida Severina, que ganhou versões para o teatro, cinema e TV. Na sequência, há na parede o traçado estilizado do estado de Pernambuco, com os rios Capibaribe e Beberibe, que marcam a vida do poeta,

“A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta por uma espada”

 

Sala imersiva: projeções

Ao final o visitante é conduzido à sala imersiva, onde são projetadas imagens em 3D e o próprio João Cabral conta sua biografia e recita seus poemas. Há imagens de cidades onde ele trabalhou e poemas e trechos de suas obras são projetados, ao som de flamenco e frevo.

“Desde tudo que lembro,
lembro-me bem que baixava
entre terras de sede
que das margens me vigiavam.”

A produtora e idealizadora do projeto é enfática ao definir a mostra: “É uma exposição imersiva, com conteúdo sensorial e diferentes olhares sobre um artista múltiplo e criativo. Será um mergulho inédito no universo de Cabral, mas também um passeio didático por um dos autores mais importantes da língua portuguesa”, argumenta Ava Correa.

Sem dúvida a exposição traz um olhar sensível de uma filha para a obra e a vida do pai, um artista e um poeta de dimensão universal. Afinal, o que é poesia? é uma imersão ao mundo de João Cabral de Melo Neto conduzido por ele mesmo. Não perca!

Roteiro:
Afinal, o que é poesia? – mostra sobre o poeta João Cabral de Melo Neto. Museu Cais do Sertão, av. Alfredo Lisboa, 11, tel. 3815-9511. Horários: de terça a sexta das 10h às 16h; sábado e domingo das 11h às 17h. Ingressos: R$10 e R$ 5 (terça, gratuito). Temporada: até 20 de novembro.

Fotos: divulgação/ Isabela Baracho