De Maurício Mellone em outubro 31, 2012
No Mundo da Lua / Gilberto Gil
Se o milagre acontecesse de eu voltar/
E o meu vulto aparecesse no sertão/
E o povo me pedisse pra cantar/
E na hora me faltasse o vozeirão/Se o milagre acontecesse de eu voltar/
Sem poder sair cantando por aí/
Juro que eu pedia a Deus pra me polpar/
De um milagre tão besta, tão chinfrim/Afinal de contas se eu ainda sou rei/
É que aí na terra tudo é tão real/
E o povo canta o canto que eu cantei/
Não importa o certo e o errado, o bem e o mal/Que vocês ainda possam me escutar/
Através das minhas velhas gravações/
É sinal que o mundo vai continuar/
A viver de mitos, sonhos e paixões.”
Com Gilberto Gil declamando os versos de sua canção em homenagem ao rei do baião é que o filme Gonzaga- de pai pra filho inicia e fisga o espectador já nas primeiras cenas. O diretor Breno Silveira é mestre em contar uma história com emoção: em 2 Filhos de Francisco levou a legião de fãs da dupla Zezé di Camargo e Luciano e o púbico em geral às lágrimas com a trajetória dos cantores e mais recentemente fez o mesmo com À Beira do Caminho sobre os desamores de um caminhoneiro, fã ardoroso de Roberto Carlos.
Desta vez o foco desloca-se para o sertão nordestino e Silveira mostra um recorte na vida de Luiz Gonzaga: num período sem shows e fora do mercado fonográfico, o rei do baião recebe a inesperada visita do filho, Gonzaguinha, que deseja ajudá-lo; no entanto as mágoas do passado ainda estavam presentes e os dois brigam novamente. Com a tentativa de explicar o porquê de sua ausência na vida do filho, Gonzaga começa a relatar sua história de vida e o filme recua aos anos 20, quando tudo começou.
Com roteiro de Patrícia Andrade e tendo como fonte de pesquisa o livro O Rei e o Baião de Bené Fonteles e fitas com diálogos entre o Gonzagão e Gonzaguinha, Gonzaga- de pai pra filho intercala cenas do encontro de pai e filho nos anos 80 e passagens na vida de Luiz Gonzaga.
Com o recuo na história, o filme traz desde o primeiro amor de Gonzaga na adolescência ainda no sertão ao lado dos pais, sua ida para a capital do Estado, os 10 anos que passou no exército, sua chegada ao Rio e início da carreira profissional, seus dois casamentos, o êxito profissional até o início do ostracismo, quando o filho chega para resgatá-lo para o sucesso arrebatador.
Para viver pai e filho, o diretor optou por escalar atores diferentes nas diversas fases. Assim Gonzagão é interpretado por Land Vieria na adolescência, Chambinho do Acordeon (dos 20 aos 50 anos) e Adelio Lima aos 70 anos. Já Gonzaguinha é vivido por Alison Santos na infância, Giancarlo di Tomazzio na adolescência e Julio Andrade nos anos 80, num trabalho primoroso de composição. Chambinho e Adelio também impressionam com a brilhante e convincente interpretação para o rei do baião.
Mais do que homenagear Luiz Gonzaga e sua carreira de sucesso — com o parceiro Humberto Teixeira, Lua, como era carinhosamente chamado, é considerado o pioneiro em gêneros musicais como o baião, xote e xaxado —, Gonzaga- de pai pra filho mostra os bastidores da vida do homem, pai de família e artista, obrigado a se ausentar para cumprir extensa agenda de shows pelo país. As cenas de conflitos de pai e filho e a reconciliação entre eles são de extrema emoção. Destaque do filme também para a cuidadosa caracterização de época (vários períodos em diferentes localidades) e afinada interpretação do elenco, que conta com Luciano Quirino e Sílvia Buarque como padrinhos de Gonzaguinha, Cláudio Jaborandy e Cyria Coentro como Januário e Santana pais de Gonzagão e ainda as participações de João Miguel, Zezé Motta, Cecília Dassi e Domingos Montagner.
Este filme é pra quem gosta de cultura popular brasileira, músicas regionais e também de um bom drama”, arremata o diretor Breno Silveira.
Para aguçar a vontade de assistir ao filme, acompanhe este vídeo do rei do baião cantando a clássica Asa Branca, que compôs em parceria com Humberto Teixeira:
http://www.youtube.com/watch?v=cGDJ-oWQ3_o
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