De Maurício Mellone em setembro 14, 2016
No ano em que o samba completa 100 anos de existência, nada melhor do que um musical em homenagem a um dos maiores sambistas e poetas do Brasil. Angenor de Oliveira, o popular Cartola, é reverenciado no musical Cartola – o mundo é um moinho, que acabou de estrear no Teatro Sérgio Cardoso . Idealizado pelo ator Jô Santana, com dramaturgia de Arthur Xexéo, direção de Roberto Lage e direção musical de Rildo Hora, o espetáculo — que conta com 18 atores e 8 músicos, liderados por Flávio Bauraqui na pele do poeta— faz um grande painel da vida e obra de Cartola. Para isso, a trama é construída dentro de uma escola de samba que vai levar para a avenida como enredo a história do mestre Cartola. O carnavalesco Luizinho (Hugo Germano), para explicar para a comunidade a sua ideia, vai relatando os principais fatos da vida do sambista, desde sua desavença com o pai, vivido por Augusto Pompeo, sua vida boêmia, o primeiro casamento com Deolinda (Adriana Lessa), seus primeiros sambas, o segundo casamento com Donária (Lu Fogaça), a fundação da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, seu encontro de alma com Dona Zica, interpretada por Virgínia Rosa e finalmente seu reconhecimento com a gravação dos primeiros álbuns e a consagração popular.
O interessante da montagem é que a história do homenageado é contada de forma cronológica, mas de maneira intercalda com o dia a dia da comunidade da escola de samba e os conflitos internos da agremiação. E mais do que os fatos sobre a vida sofrida de Cartola — que só aos 65 anos consegue gravar seu primeiro álbum —, a trama dá ênfase aos sambas imortais do mestre, como As rosas não falam, Alvorada, O sol nascerá, Acontece e O mundo é um moinho, que inspirou tanto o musical como a canção original composta especialmente para o espetáculo por Arlindo Cruz e Igor Leal, Mestre Cartola.
No programa da peça, Jô Santana ressalta a valiosa contribuição de Nilcemar Nogueira, neta de Cartola e doutora em psicologia social, que tomou a frente da pesquisa que fundamentou o musical.
“Com Nilcemar, tivemos a ideia de apresentar um espetáculo realizado por artistas negros. Muito mais do que contar uma história, estamos evidenciando a fundamental importância da história da cultura do nosso país. Cartola, com sua genialidade, se torna contemporâneo, quando percebemos que o samba comemora em 2016 seu centenário. Retratar a vida e obra de Cartola é uma honra para todos nós”, ressalta Jô Santana.
Numa concepção cênica enxuta, desprovida de aparatos tecnológicos, o musical se destaca por seu tom alegre, leve, ressaltando a grandeza e a poesia da obra de Cartola. A composição e caracterização de Flávio Bauraqui para o mestre merece todo o destaque (na cena da gravação do primeiro disco, a semelhança é incrível e emociona). A cada semana haverá convidados especiais, que interpretarão sucessos de Cartola; na semana de estreia a convidada foi a cantora Roberta Sá. Não deixe de conferir; como um aperitivo, fique com o vídeo do próprio Cartola interpretando O Sol Nascerá, que ele compôs com Helton Medeiros:
Fotos: Vânia Toledo
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