De Maurício Mellone em setembro 9, 2016
A dupla carioca Charles Möeller & Claudio Botelho, famosa por seus musicais de sucesso, adaptou para o teatro a versão do clássico do cinema O que terá acontecido a Baby Jane (What ever happened to Baby Jane?), dirigido em 1962 por Robert Aldrich, baseado no livro homônimo de Henry Farrell. Para esta versão — em cartaz no Teatro Porto Seguro até final de outubro —, Eva Wilma e Nicette Bruno revivem os papéis interpretados por Bette Davis e Joan Crawford em Hollywood.
A trama disseca a vida das duas irmãs, que em momentos distintos fizeram sucesso no cinema: Jane Hudson (Eva) na infância foi uma a garota prodígio, mas não conseguiu manter o brilho e o sucesso; já Blanche Hudson (Nicette) assumiu o posto da irmã e se tornou uma grande diva, até que um inexplicável acidente a deixou presa a uma cadeira de rodas e interrompeu a carreira de ambas. A peça começa com elas enclausuradas numa velha mansão, revivendo de memórias, mágoas, ressentimentos e uma eterna rivalidade.
A montagem intercala o momento atual em que as duas irmãs se encontram velhas e decadentes, com a memória de ambas, quando viveram o auge nos palcos e nas telas. Para isto Jane e Blanche são interpretadas respectivamente pelas atrizes Sophia Valverde e Duda Matte, na infância, e por Rachel Rennhack e Juliana Rolim na juventude. Licurgo Spínola dá vida tanto ao pai das meninas como ao diretor de cinema. A trama faz este vai e vem, do presente para o passado, e aos poucos o espectador vai tendo a noção da personalidade de cada uma das personagens e o que motivou o atual estágio da vida delas; a pergunta do título da peça é respondida com a cena final, em que há o embate entre as irmãs e todas as máscaras caem, com a verdade vindo à tona.
“Além da rivalidade entre as irmãs e todas as questões que passam por este tema, a peça também é sobre o embate entre o teatro de vaudeville e o cinema. A convivência entre os gêneros durou até o cinema se tornar falado, o que levou ao fim do vaudeville”, analisa Charles Möeller.
Ter a chance de assistir a performance de duas grandes atrizes brasileiras, que já cruzaram a barreira dos 80 anos, é a maior atração do espetáculo. Eva Wilma e Nicette Bruno têm a oportunidade de interpretar personagens de uma riqueza interior, com nuances de personalidade que surpreendem o espectador ao final. Pela própria estrutura da montagem, senti falta de cenas em que as duas irmãs pudessem contracenar por mais tempo (há vários cortes e interrupções com as mudanças de épocas), o que daria ênfase ao talento das veteranas atrizes. Mesmo assim, a importância do desfecho se dá graças ao vigor de Nicette e Eva em cena. Destaque ainda para a cenografia de Rogério Falcão, que vai se desfazendo com o desenrolar da trama, e a iluminação de Paulo César Medeiros.
Fotos: Marcos Mesquita
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