De Maurício Mellone em setembro 2, 2015
Depois de uma temporada carioca e apresentações em algumas cidades do país, está em cartaz no Teatro Eva Herz até o final de setembro a peça Depois do Ensaio, do cineasta e dramaturgo sueco Ingmar Bergman, que pela primeira vez é encenada no Brasil. Com tradução de Amir Labaki e Humberto Saccomandi e direção de Mônica Guimarães, o espetáculo revela a íntima relação entre o diretor de teatro Henrik Vogler, vivido por Leopoldo Pacheco, com duas atrizes: primeiramente, a novata Anna (Sophia Reis) que protagoniza a peça que estão ensaiando e no meio da discussão deles, reaparece Raquel (Malu Bierrenbach), mãe de Anna, já falecida. O sonho e a realidade se interpenetram e vem à tona uma infinidade de questões ligadas tanto ao fazer teatral como da ligação afetiva entre o diretor e a atriz.
Com forte viés autobiográfico e metalinguístico, a peça de Bergman (escrita em 1984) começa com Vogler no palco de um teatro vazio, em que procura descansar e repor as energias depois de ter ensaiado a peça O Sonho, de August Strindberg. Ele é surpreendido com a chegada da atriz Anna, que com uma desculpa de ter esquecido uma pulseira volta ao teatro porque sabia que o diretor ainda estava lá. Mais do que retomarem a discussão sobre a composição da personagem que Anna interpreta, diretor e atriz travam um duelo em que os sentimentos mais íntimos são aflorados — ela quer saber se ele teve um caso com sua mãe, demonstrando um misto de ciúme e indignação. No meio desta discussão é que surge, de forma onírica, Raquel e o embate amoroso com o diretor é intensificado. Novamente Vogler e Anna restabelecem um diálogo, mas o sonho e a magia permanecem, num jogo cênico que prende a atenção do espectador. Sonho, realidade, passado e presente se fundem.
“Bergman, com esta peça, escreveu um relato confessional sobre sua vida no teatro e deixou-se habitar por visitas dos que já se foram e por sonhos dos que virão. Depois do Ensaio é sobretudo uma celebração ao cinema e ao teatro”, explica a diretora Mônica Guimarães.
A iluminação de Wagner Freire e o cenário de Marco Lima enfatizam a proposta de fazer teatro dentro do teatro, uma “obra que trata da vida no teatro”, segundo o próprio Bergman. Ressalto ainda o eletrizante jogo cênico proposto pela direção (da realidade para o sonho e a volta para o real), que ganha maior dimensão graças ao carisma e à entrega em cena de Leopoldo Pacheco, um ator que se dedica integralmente ao fazer teatral (além de dirigir e atuar assina cenografia, visagismo e figurino de diversas montagens).
Um espetáculo para quem ama teatro e a magia que ele proporciona.
Fotos: Lenise Pinheiro
2 Comentários
Zedu Lima
setembro 2, 2015 @ 16:33
Assista “Depois do ensaio” na estreia e ela não me sai da cabeça até hoje. Quero rever antes de sair.
Maurício Mellone
setembro 2, 2015 @ 18:36
Zedu,
Tinha certeza q vc não deixaria de prestigiar
o trabalho do Leopoldo!
Vá de novo e diga aqui suas impressões sobre
este belo trabalho.
bjs e obrigado pela visita!