De Maurício Mellone em abril 1, 2015
O ator Fabio Assunção pela segunda vez assume a função de diretor teatral: depois de O Expresso do Pôr do Sol, em 2012, com Dias de Vinho e Rosas, em cartaz no Viga Espaço Cênico, ele é o responsável pela direção e concepção do espetáculo.
Com tradução da também atriz Clara Carvalho, a peça do dramaturgo irlandês Owen MacCafferty é baseada na série televisiva de James Miller exibida com sucesso em 1958, que também deu origem ao filme Vício Maldito, de Blake Edwards de 1962. No entanto, a peça do irlandês é uma recriação contemporânea do encontro amoroso entre Mona, vivida por Carolina Mânica, e Donal, papel de Daniel Alvim. Em nove cenas o espetáculo retrata os nove anos desta relação, que vai desde o encantamento inicial, a euforia movida a muito álcool até o estranhamento, o desgaste e a previsível e melancólica separação do casal.
Com o palco totalmente vazio e os atores já presentes — não há coxia, eles trocam de figurino na frente do público e montam os cenários em cada cena —, a peça tem início no saguão do aeroporto de Belfast/Irlanda. Jovens e idealistas, Mona, que é professora, e Donal, um apostador profissional de corridas de cavalo, estão de mudança para Londres, capital inglesa, em busca de novos horizontes e crescimento profissional. A atração é imediata e em pouco tempo eles estão casados e com um filho.
No entanto, o terceiro elemento, e de fundamental importância neste relacionamento, é o álcool. No início a bebida ajuda a descontrair e ser o elo entre eles. Mas com o tempo tudo se altera: Mona fica só em casa cuidando do filho e não controla mais o vício, enquanto Donal bebe a todo o instante no trabalho e exageradamente durante as corridas de cavalo, à noite. Além do efeito corrosivo provocado pelo álcool, o desgaste e o distanciamento entre eles irão inviabilizar qualquer tipo de reconciliação do casal.
Para o diretor, a montagem não propõe um julgamento moral dos personagens, a discussão é mais profunda:
“Esta é uma peça moderna, atual, que discute o amor e a desconstrução dele no complexo contexto das grandes cidades e a busca desesperada pelo prazer, tornando os seres hedonistas e infelizes. O texto mostra como o desgaste do cotidiano causa a implosão do amor”, define Fabio Assunção.
Além da direção despojada, Dias de Vinho e Rosas deve ser ressaltada pela iluminação de Caetano Vilela, pela concepção cenográfica minimalista de Fábio Namatame e pela providencial direção musical do mestre Egberto Gismonti. Com um texto denso e sem concessões — a degradação que o álcool provoca em Mona e Donal é desconcertante para o público —, o grande destaque do espetáculo é para a interpretação visceral de Carolina Mânica e Daniel Alvim, que defendem seus personagens com muita verdade. Confira, a temporada se estende até final de junho.
Fotos: Priscila Prade
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