De Maurício Mellone em maio 27, 2014
Nem parece que o texto do dramaturgo britânico Noël Coward foi escrito há 85 anos: Vidas Privadas, em cartaz no Teatro Jaraguá é uma comédia requintada e com o glamour dos anos 30, mas a atualidade do texto atrai e deixa o espectador muito atento às divertidas e inusitadas situações dos dois casais retratados em cena.
Com produção de João Federici, que há quatro anos luta para montar a peça no país, e direção de José Possi Neto, a trama traz dois casais: o primeiro Amanda e Elyot, interpretados por Lavínia Pannunzio e José Roberto Jardim, divorciados há cinco anos e que se reencontram num hotel onde estão em lua de mel, já com seus novos cônjuges, Victor e Sybil (Daniel Alvim e Maria Helena Chira). Por ironia do destino, este encontro reacende o fogo da paixão entre eles, que resolvem fugir para Paris deixando para trás os novos companheiros. É óbvio que Victor e Sybil não deixam por menos e saem em busca dos fujões, provocando momentos engraçados.
O primeiro ato acontece nas duas sacadas das suítes do hotel em que os dois casais, coincidentemente, escolhem para passar a lua de mel. Elyot e Sybil estão se preparando para jantar e, ao invés de demonstrações de carinho, eles vivem suas primeiras e intensas discussões em razão de ciúmes. Na sequência, na sacada ao lado, Amanda e Victor também reproduzem o mesmo clima dos vizinhos: os atritos entre eles surgem em função de inveja e ciúme de Victor do ex-marido de Amanda. Após as brigas, Elyot e Amanda ficam sozinhos em suas suítes e, ao saírem para a sacada, o reencontro é inevitável. A princípio eles se assustam com a coincidência, mas com o desenrolar da conversa ambos admitem que ainda se amam e resolvem deixar tudo para trás e retomar suas vidas em Paris.
O segundo ato — sem intervalo com o público assistindo a rápida e criativa mudança de cenário — se passa numa luxuosa sala de um apartamento parisiense: o novo/velho casal está em êxtase, mas o passado não está longe e as brigas voltam com o mesma intensidade com que o prazer os uniu novamente. Para completar, Victor e Sybil, também enamorados, chegam para resolver ou complicar ainda mais a situação.
“Noël Coward com esta peça zomba e ri das convenções sociais, disseca a relação amorosa expondo os personagens ao ridículo extremo que a entrega apaixonada pode nos levar. Com uma discussão de valores morais criando situações absurdas, o texto é muito inteligente,” afirma Possi Neto.
Além da contemporaneidade do texto de Coward (que ganhou tradução e adaptação de Marcos Renaux), Vidas Privadas se destaca pelo cenário criativo e de requinte de Marco Lima, o figurino deslumbrante de Fabio Namatame e iluminação de Wagner Freire. No entanto, a interpretação de Lavínia Pannunzio e José Roberto Jardim enaltece a montagem: a cena do reencontro de seus personagens é linda, ambos cantando e envolvendo a plateia. Lavínia traz Amanda para os dias atuais e incita o espectador a refletir sobre a relação afetiva dos nossos dias.
Não perca, a temporada se estende até o início de agosto.
Fotos: Fábio Messias
2 Comentários
bruno
maio 28, 2014 @ 15:06
Muito bom sua visão Maurício
Eu adorei
Bjos mil!
Maurício Mellone
maio 29, 2014 @ 12:06
Bruno,
fico contente q vc tenha gostado
do que escrevi do espetáculo, a que assistimos
juntos.
bjs e obrigado pela visita