De Maurício Mellone em novembro 21, 2012
Como um prólogo, Era Uma Vez Eu, Verônica começa com uma linda cena na praia em que os personagens estão nus, tomando banho de mar. O público só vai entender o significado desta cena ao final do drama vivido por Verônica, a médica que acaba de se formar e iniciar a residência em psiquiatria num hospital público de Recife/PE.
A personagem central, vivida por Hermila Guedes — que já tinha participado de outro filme do diretor Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus) e estrelado Céu de Suely de Karim Aïmouz— exigiu muito da atriz, justamente por vivenciar uma transformação de vida. De estudante de medicina que sabia das neuroses humanas por meio da literatura médica, a recém-formada começa a residência de psiquiatria num hospital público, em que a demanda é sempre muito grande. Além de se adaptar ao novo emprego, Verônica é obrigada a lidar com os diferentes sintomas das pessoas que recorrem ao hospital com as mais diversas queixas, desde uma dor de cabeça interminável a sensações de perseguição, desamparo e de ouvir vozes interiores! Na medida em que avança na profissão, ela começa a se questionar sobre seu futuro, seus amores e desejos.
Verônica vive só com seu pai José Maria (W.J.Solha), um bancário aposentado e amante de música, que passa o dia ouvindo velhas canções e arrumando sua vasta coleção de vinis. A transformação daquela estudante de medicina que usava o velho gravador como um diário para uma profissional que precisa solucionar os graves problemas psiquiátricos dos pacientes é lenta, mas brusca. Verônica recorre ao gravador, agora não para relatar sua vida cotidiana ou os casos de seus pacientes, mas para registrar suas próprias ansiedades, frustrações, desejos e expectativas diante da vida. Tanto que num determinado momento ela começa a gravação dizendo: “Eu, paciente Verônica…”
Para completar o drama da personagem, José Maria sente-se mal e ao ser examinado o médico confessa à colega que ela precisa aproveitar o máximo o contato com o pai.
Não bastassem as dúvidas diante da profissão e da doença do pai, Verônica vive um tórrido caso de amor com Gustavo, interpretado pelo excelente ator João Miguel. No entanto, ela adora as relações sexuais com ele, mas não sabe se quer manter um relacionamento sério. Diz que se entrega na cama, mas que tem um coração de pedra, não ama ninguém! Sua verdadeira paixão é o mar: ela só relaxa quando se delicia nas piscinas formadas pelos arrecifes da capital pernambucana.
Com roteiro do próprio diretor Marcelo Gomes, Era Uma Vez Eu, Verônica tem um ritmo particular, pausado, muito em função dos questionamentos interiores da personagem central. O público vai se envolvendo paulatinamente à história de Verônica: suas divagações podem tanto serem estranhas como provocar identificação com os espectadores. Além da interpretação sensível e tocante de Hermila Guedes, a trilha sonora de Tomaz Alves Souza é outro grande destaque do filme. E, claro, as belas imagens do mar de Recife são encantadoras; o roteiro de Marcelo Gomes se fecha com a repetição da cena inicial, aquele banho de mar, que pode ter várias significações, arrisque a sua! Fico com a ideia de que o é um grande descarrego para todos os envolvidos naquele delicioso e sensual banho!
Fotos: divulgação
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