De Maurício Mellone em agosto 24, 2017
Uma história de vida tão enriquecedora, como a do pianista e maestro paulistano João Carlos Martins, não podia deixar de ser registrada pelo cinema. E é o que o diretor Mauro Lima fez e o público agora tem a chance de conferir. João, o maestro é a cinebiografia de João Carlos e registra sua trajetória de vida, desde a infância (vivido pelo garoto Davi Capolongo), quando foi considerado um prodígio do piano, passando pela adolescência e fase adulta com o sucesso internacional (com interpretação de Rodrigo Pandolfo), os acidentes e os primeiros problemas físicos que o limitaram de tocar até a maturidade, a superação e início da nova profissão, a de maestro. Alexandre Nero é o intérprete de João da fase madura até hoje.
O diretor, que assina também o roteiro, criou uma narrativa que dá ênfase à música: para contar as peripécias e as diversas fases da vida do personagem central, ele utiliza as canções executadas por João Carlos Martins; assim toda a trilha sonora do filme é composta das gravações e concertos que o pianista realizou por todo o mundo.
Figura central na vida de João Carlos, seu pai, o português José que não pode tocar piano devido a um acidente e viveu até os 102 anos, é muito bem representado na trama por Giulio Lopes: além de comprar o primeiro piano para o garoto, sempre foi seu maior incentivador. Os primeiros professores do pianista também são destaque no roteiro: Aida (Alice Assef) logo vê que tinha nas mãos um garoto de raro talento e o indica a José Klias, interpretado por Caco Ciocler, um austero e rígido mestre, que o assessora no início da carreira profissional.
O sucesso internacional foi imediato na vida de João Carlos e no filme isto fica evidente por meio dos inúmeros concertos pelo mundo, com os teatros lotados. No entanto, o pianista sofreu alguns graves reveses: o primeiro deles foi o tombo num jogo de futebol em Nova York, que lhe causou os primeiros traumas, dificultando o movimento da mão direita. Anos depois, num assalto em Sófia, capital da Bulgária, onde levou uma marretada na cabeça, João precisou de afastar do piano. Mesmo que João Carlos tenha passado por 23 cirurgias até hoje, o roteiro do filme não se atém ao lado médico-hospitalar; os traumas físicos são mencionados, mas o diretor ressalta a obsessão do músico pela profissão e sua luta em superar os obstáculos que a vida lhe impôs. O roteiro não deixa de mencionar ainda o lado afetivo, emocional da vida do músico: mostra seu primeiro casamento com Sandra (Fernanda Nobre) e seu relacionamento com Carmen, vivida por Alinne Moraes, além do fato curioso, numas das primeiras viagens internacionais, em que o pianista perde sua virgindade.
Com uma história cativante, um personagem com uma rica experiência de vida e exemplo de superação, João, o maestro tem todos os elementos para fazer grande sucesso junto ao público. E o que sobressai no filme também é a entrega e a interpretação visceral tanto de Rodrigo Pandolfo como de Alexandre Nero para a composição de um personagem real e que felizmente está vivo e em plena atividade até hoje, aos 77 anos de vida! Não deixe de assistir a comovente história de um grande brasileiro. Fique com um aperitivo: o vídeo de uma apresentação de João Carlos Martins e a Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi/SP executando o Hino Nacional.
Fotos: divulgação
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