Limpe todo o sangue antes que manche o carpete

De em maio 23, 2011

Cia dos Inquietos encena primeiro trabalho com texto de Jô Bilac

Com este título instigante, a peça de Jô Bilac põe a nu as relações de poder e a busca incessante pelo sucesso. Ganhador do Prêmio Shell/RJ de 2010 como melhor autor por Savana Glacial, o dramaturgo carioca foi o escolhido pela Cia dos Inquietos para marcar a estreia do grupo. Sob a direção de Eric Lenate, Limpe todo o sangue antes que manche o carpete — que iniciou temporada em abril e deve ficar até junho no Espaço Beta do SESC Consolação— vem conquistando os paulistanos. Com apenas 48 lugares, o público luta para conseguir ingresso. E é recompensado: uma encenação enxuta, com atores novos e talentosos e um texto irônico sobre a escalada social, em que princípios éticos e morais são relegados. Só o que importa é o sucesso, a qualquer custo.
A trama é desenvolvida em dois planos. No primeiro Wilson, interpretado por Ed Moraes, disputa uma vaga de emprego numa grande empresa com Pierre (Daniel Tavares). Ao saber que não foi o escolhido, Wilson passa a forçar encontros com seu oponente; chega a se passar por um profissional de RH da empresa para testar Pierre. No outro plano, a noiva de Wilson, Sabrina (Luna Martinelli), é cuidadora de idosos e convence a amiga de trabalho, Geda (Mariah Teixeira), a participar de um plano lucrativo e nada humanitário.
O diretor Eric Lanate é contundente ao afirmar, no programa da peça, que a evolução humana não é acompanhada pela melhoria do espírito:
“Lamentavelmente constatamos que a evolução da espécie não implica em desenvolvimento ético e moral. Há ‘Macbeths’ nos dias de hoje, com o mesmo perfil do personagem de Shakespeare. Os cenários e as vestimentas podem ser diferentes, mas as máscaras velam e desvelam sentimentos vis, próprios dos seres embrutecidos, animalizados por seus desejos e ambições, como é o panorama apresentado por Jô Bilac nessa peça”.
O que dá maior vigor ao texto é justamente a brilhante atuação dos quatro atores. A cena das duas cuidadoras é hilária e o embate dos personagens masculinos envolve a platéia num clima tenso e competitivo.

Fotografia: Gustavo Porto


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