De Maurício Mellone em julho 26, 2017
Tanto a diretora como o ator retomam o grande escritor brasileiro Machado de Assis. Marcos Damigo no ano passado apresentou As sombras de Dom Casmurro, em que vivia os principais personagens do romance machadiano; já Regina Galdino, que havia adaptado Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1998, no solo premiado de Cássio Scapin, desta vez dá nova roupagem a este clássico da literatura brasileira, que acabou de estrear no Teatro Eva Herz. Nesta versão, no formato de musical cômico, Damigo encarna o personagem-defunto que volta da sepultura para contar sua experiência de vida.
“O ator e o defunto têm pontos em comum, estão livres das convenções sociais, não respeitam as leis de tempo e espaço e olham para o mundo sem o véu do cotidiano. Regina foi muito feliz nesta adaptação: ao brincar livremente com os códigos teatrais, mantém-se ao mesmo tempo fiel ao livro”, explica Marcos Damigo.
Numa proposta brechtiana de trabalho, o ator após o terceiro sinal entra no palco, cumprimenta a plateia e, ao explicar a montagem, pede que todos participem numa canção que irá apresentar no decorrer da peça. Em seguida, vai para a marcação inicial (o túmulo) e dá inicio ao espetáculo.
O personagem defunto, irreverente e amoral de Machado permanece atual, já que ao contar sua trajetória de vida, Brás Cubas faz uma crítica mordaz à sociedade aristocrática da época, que agia de forma inescrupulosa, menosprezando a ética.
“O romance foi escrito em 1881 e infelizmente seguimos entendendo cada palavra de Machado de Assis com irônica atualidade. Nestes tempos sombrios, precisamos revirar as tripas corroídas do defunto Brás Cubas para entender por que nossa elite insiste em fingir-se liberal, quando se mantém essencialmente escravocrata”, argumenta Regina Galdino.
A montagem une teatro, literatura, música e dança: além do relato da vida do personagem, Damigo — que assina a coreografia e está à vontade em cena —, canta e dança para compor Brás Cubas. Há também cenas de plateia, com o ator divertindo a todos. Destaque ainda para o figurino marcante de Fabio Namatame e a direção musical de Pedro Paulo Bogossian. A temporada se estende até final de setembro, não perca.
Roteiro:
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Texto: Machado de Assis. Direção e adaptação: Regina Galdino. Elenco: Marcos Damigo. Música original: Mário Manga. Direção musical, arranjos e trilha sonora: Pedro Paulo Bogossian. Figurino: Fábio Namatame. Coreografia: Marcos Damigo. Iluminação e cenografia: Regina Galdino. Fotografia: Lucas Brandão. Realização: Oasis Empreendimentos Artísticos.
Serviço:
Teatro Eva Herz (167 lugares),Livraria Cultura/Conj. Nacional, Av. Paulista, 2073, tel. 11 3170-4059. Horários: quinta e sexta às 21h. Ingressos: R$ 50 e R$ 25. Bilheteria: de terça a sábado, das 14h às 21h; domingos, das 13h às 19h. Duração: 1h20. Classificação: 12 anos. Temporada: até 29 de setembro.
6 Comentários
Imad
agosto 11, 2017 @ 15:53
Sua resenha, como sempre, faz justiça à boa peça a que assistimos!
Duas amigas vão hoje mesmo ver o espetáculo.
Sucesso, Maurício.
Maurício Mellone
agosto 11, 2017 @ 17:00
Imad, querido:
q bom q vc curtiu a resenha sobre a
adaptação da obra machadiana.
Obrigado pela constante presença aqui no Favo
bjs
Ed Paiva
julho 27, 2017 @ 06:59
Excelente espetáculo, Maurício! Damigo está ótimo ao conduzir a plateia nessa irreverente e atual adaptação do clássico de Machado de Assis. Seu Brás Cubas é inesquecível. Parabéns pela ótima resenha!
Maurício Mellone
julho 27, 2017 @ 14:23
Ed,
obrigado pelos elogios e pela força!
Sem dúvida, Damigo está muito bem em cena na pele do
personagem defunto, Brás Cubas.
(ele está se especializando em Machado; em Dom Casmurro
ele fazia todos os personagens na montagem de Débora Debois)
Volte sempre, adoro suas observações e seu olhar para a cena
teatral paulistana
Bjs
Fábio Mráz
julho 27, 2017 @ 03:06
Maravilhoso!!!
Maurício Mellone
julho 27, 2017 @ 14:24
Fábio,
que ótimo q vc curtiu!
Obrigado pela força
bjs