De Maurício Mellone em março 18, 2019
Assim como já fez em outra peça, A bala na agulha, a dramaturga Nanna de Castro volta a se utilizar da estrutura teatral para discutir as relações humanas. Desta vez em DuoSolo, dirigida por Dan Rosseto e em cartaz no Teatro Eva Herz somente às terças e quartas, ela radicaliza a proposta ao colocar uma peça dentro de outra peça. Dois atores, Gustavo Haddad e Bruna Magnes, estão num palco vazio e se preparam para ensaiar um texto. A trama traz apenas o Narrador e o Personagem, que interpretam diversos papéis de funcionários de uma empresa multinacional, em que fica evidente a disputa pelo poder.
Tudo começa com Gustavo no centro do palco apresentando um texto que traz as várias vozes internas de uma mesma pessoa — este texto é repetido ao final do espetáculo por Bruna. Em seguida a atriz entra e começa a arrumar o cenário para iniciar o ensaio da peça e pede ajuda do colega. Eles são interrompidos pelo diretor, que pede para iniciarem a primeira cena (durante todo o ensaio há estas interferências, dadas por Rosseto, que está na sala dos técnicos, ao fundo).
As cenas da peça que os atores ensaiam acontecem num pequeno tablado e refletem as relações de poder de uma multinacional que está num processo de transformação interna. Além das disputas da empresa envolvendo o presidente, o diretor e o gerente de marketing, a diretora de RH e até a senhora do cafezinho, há o conflito entre o Personagem e o Narrador.
“Nossa montagem provoca a reflexão por meio da relação entre o opressor e o oprimido, transformando o Narrador e o Personagem em um só, contrastando seus desejos e frustrações, expectativas e resistências. A densidade psicológica proposta pela autora oferece muitas camadas a serem dissecadas”, afirma Dan Rosseto.
Dentro desta estrutura de metalinguagem, a proposta cênica é de desconstrução do próprio teatro — ao final os dois atores voltam a deixar o palco totalmente vazio e saem de cena. Como vivem diversos personagens, os dois atores têm a chance de um grande exercício de interpretação (fiquei particularmente bem impressionado com a versatilidade demonstrada por Haddad). Entretanto há um descompasso entre a proposta da dramaturgia e o resultado. Se em outros trabalhos como Novelo Nanna de Castro já havia mostrado extrema criatividade, desta vez senti falta de unidade entre as cenas e os conflitos são apenas apresentados e não discutidos em profundidade. O texto inicial, repetido no fim, fica desconectado do conjunto, assim como a relação de conflito fora de cena entre o ator e a atriz (Personagem e Narrador) é pouco desenvolvido.
Roteiro:
DuoSolo. Texto: Nanna de Castro. Direção: Dan Rosseto. Elenco: Bruna Magnes e Gustavo Haddad. Assistente de direção: Giovanna Marqueli. Cenário: Luiza Curvo. Iluminação: Herick Almeida. Arte gráfica: Leilane Bertunes. Fotografia: Erik Almeida. Direção de produção: Fabio Camara. Realização: Applauzo e Lugibi Produções.
Serviço:
Teatro Eva Herz (168 lugares), Av. Paulista, 2073, Conj. Nacional, tel. 11 3170-4059. Horários: terça e quarta às 21h. Ingressos: R$ 40. Bilheteria: de terça a sexta das 14h às 21h; sábado e domingo a partir das 14h. Duração: 70 min. Classificação: livre. Temporada: até 24/04.
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