De Maurício Mellone em março 9, 2017
Em curtíssima temporada — só até o final de março — na sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso, a peça Zibaldone, do poeta italiano do século XIX Giacomo Leopardi, reúne textos que versam sobre a vida, o amor, o poder e a morte. O espetáculo de Aimar Labaki, responsável pela concepção, tradução, dramaturgia e direção, coloca em cena somente dois atores, Adriana Londoño e Clovys Torres, que através da dança, performances e os textos de Leopardi ao lado de poemas de outros autores (como Augusto de Campos e Cazuza) traduzem as inquietações do Homem do século XXI.
“Leopardi não é um pretexto e nem o único em cena. O que queremos é trazê-lo para hoje (sem alterar suas palavras), torná-lo interlocutor da cena e do espectador contemporâneos. Deixar que suas palavras fluam pelo corpo do ator para poder dialogar com a vida dos espectadores”, explica Aimar Labaki.
“Uma casa no ar/
Suspensa por cordas/
A uma estrela”
Por este lindo poema acima dá para perceber como o espetáculo enfatiza a palavra, tanto que não há trilha sonora e a iluminação é básica. Ao entrar na sala, o público é convidado a subir ao palco, ficando em círculo, ao redor do espaço cênico, em que há uma muralha de livros e o ator está deitado lendo. Ouve-se uma espécie de mantra e aos poucos o público percebe que é a atriz que recita poemas de Leopardi em italiano. O ator começa a dizer os textos e logo derruba todos os livros para que ambos possam traduzir o universo deste grande poeta italiano pouco conhecido entre nós. Giacomo Leopardi compôs 41 poemas, uma extensa correspondência e Zibaldone, um misto de diário e anotações filosóficas com mais de 4 mil páginas.
“Buscamos um contraponto entre a ideia de crítica à modernidade presente na obra de Leopardi e a realidade de hoje. O espetáculo não é um retrato do artista, nem tampouco uma visita à vastidão de sua obra; é a procura da atualidade de sua poética por meio do diálogo com a cena contemporânea no que ela tem de busca de essencialidade no corpo dos atores e na palavra ao mesmo tempo poética e épica da dramaturgia de nossos dias”, diz o diretor.
Além da proximidade com os atores, o espectador é envolvido na poética do espetáculo e até se esquece de que muitos dos poemas foram escritos há tanto tempo. Adriana Londoño e Clovys Torres estão seguros em cena e passam todas as nuances da poética de Leopardi, da fragilidade romântica ao vigor crítico, do amor à vida ao entendimento da morte. Outros destaques ficam para a concepção cênica de Labaki e o belo figurino de Fabio Namatame.
Programe-se: a peça é apresentada de terça a quinta somente até o dia 30 de março.
Roteiro:
Zibaldone. Texto: Giacomo Leopardi. Concepção, dramaturgia, tradução, cenografia e direção: Aimar Labaki. Elenco: Adriana Londoño e Clovys Torres. Consultoria literária: Maurício Santana. Produção, cenotécnica e assistência de cenografia: Murilo Carraro. Figurino feminino: Fábio Namatame. Fotografia: Gal Oppido.
Serviço:
Teatro Sérgio Cardoso, sala Paschoal Carlos Magno (80 lugares), Rua Rui Barbosa, 153, tel. 11 3288-0136. Horários: terça, quarta e quinta, às 20h. Ingressos: R$ 60 e R$ 30. Bilheteria: de terça a sábado das 14h às 17h e de quarta a domingo, das 14h até o início do espetáculo. Vendas: www.ingressorapido.com. Duração: 60 min. Classificação: 10 anos. Temporada: até 30 de março.
4 Comentários
Antoune Nakkhle
março 14, 2017 @ 12:11
Deu vontade de assistir! Irei em breve!
Maurício Mellone
março 14, 2017 @ 12:23
Antoune,
Vc, um profissional ligado aos livros,
não pode perder este espetáculo dirigido
por Aimar Labaki.
Depois volte para dizer sua opinião
bjs
Antoune Nakkhle
abril 2, 2017 @ 16:51
Maurício,
vou assistir o espetáculo hoje no teatro da SP Escola de Teatro. Depois escrevo aqui. Abraço,
Antoune
Maurício Mellone
abril 3, 2017 @ 14:21
Antoune,
tomara q vc tenha gostado
Aguardo sua opinião
abrs