Palácio do Fim: os horrores de uma guerra

De em janeiro 23, 2012

Vera Holtz, indicada melhor atriz no Prêmio Shell/RJ, vive a iraquiana vítima de tortura

Independe do período da história da humanidade: guerra é sempre indefensável. Os horrores que ela causa — seja para uma pessoa, para uma família, uma nação ou para todo o planeta — são sempre devastadores. A arte retrata, invariavelmente, os conflitos armados; na maioria das vezes, como forma de denúncia das atrocidades geradas por eles.
A dramaturga canadense Judith Thompson em Palácio do Fim, em cartaz no SESC Consolação até 11 de março, não fez diferente. Partiu de fatos reais da Guerra do Iraque e criou três monólogos, que na montagem dirigida por José Wilker, são intercalados nos 90 minutos de duração do espetáculo. As três histórias relatam experiências de personagens que, mesmo em campos opostos, tiveram suas vidas brutalmente alteradas com o advento da guerra.

Camila Morgado é Lynndie England, recruta do exército norte-americano

 

 

Palácio do Fim refere-se ao local em que o governo do ditador Saddam Hussein torturava os cidadãos em Bagdad, capital do Iraque. A autora criou primeiramente o monólogo Minhas Pirâmides, em que a recruta do exército americano Lynndie England (Camila) está grávida do ex-namorado e presa, acusada de participar de sessões de abuso e tortura aos detentos da prisão de Abu Ghraib. Nas fotos divulgadas os soldados norte-americanos puxavam os presos e os amontoavam, nus, em pírâmides humanas. Em seguida a autora acrescentou o monólogo Colinas de Horrowdown, em que o cientista inglês David Kelly (Petrin) relata seu dilema moral; ele fez parte do grupo que confirmara o potencial bélico de Saddan (armas de destruição em massa) e assinara um pacto de sigilo. Com o extermínio de uma família iraquiana, seus amigos, resolve denunciar a farsa para um programa da BBC de Londres. Passa a ser humilhado e num bosque perto de sua casa resolve se matar (ou foi assassinado?).
Para completar o painel dos horrores desta guerra, a canadense cria o monólogo Instrumentos de Angústia, em que a ativista do Partido Comunista Nehrjas Al Saffarh (Vera) narra as atrocidades cometidas no Palácio do Fim com ela e seus filhos menores. O relato é post-mortem, pois a ativista morreu de um bombardeio durante a guerra do Golfo, em 1993.

Antonio Petrin vive o cientista britânico David Kelly que denunciou a farsa das armas químicas

A montagem não dá trégua ao espectador: desde o início os atores entram e se posicionam estrateticamente no palco.

 

A brilhante iluminação de Maneco Quinderé deixa apenas parte dos corpos iluminada, numa alusão direta aos efeitos causados pelo conflito armado. As três histórias são contadas de maneira intercalada e o público, desta forma, tem a chance de montar o sangrento quebra-cabeça bélico iraquiano.
Não é por acaso que a montagem carioca chega a São Paulo recheada de indicações ao pêmio Shell: Wilker pela direção, Maneco pela iluminação e Beth Filipecki pelo figurino, todos merecidíssimos. No entanto, Vera Holtz , também indicada, é sem dúvida o maior destaque de Palácio do Fim. De maneira sóbria, sentada numa banqueta, com ligeiro sotaque curdo/árabe, a atriz transmite a dimensão da dor de uma mãe que assiste a tortura de filhos. Seu relato é a síntese do escárnio ao autoritarismo e opressão de Saddam Hussein.

Fotos: Guga Melgar


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