De em abril 10, 2012
Moliére há mais de 400 anos debruçou-se sobre o mito do sedutor e galanteador Dom Juan e não é por acaso que seu texto é um clássico até os nossos dias. Em tempos de conquistas pela internet e relações fugazes e descartáveis, nunca as artimanhas da conquista de um personagem tão elegante e sedutor como Dom Juan calam tão fundo nas plateias atuais.
No espetáculo Dom Juan, em cartaz no teatro Raul Cortez, o ator Rodrigo Lombardi faz o personagem título, William Pereira assina a direção e o professor Jorge Coli foi o responsável pela tradução do texto de Moliére.
Não vamos nos preocupar com o mal que pode nos acontecer, vamos nos preocupar com o que pode nos dar prazer.”
Esta frase é a síntese do sedutor Dom Juan, mas poderia ser atribuída a qualquer conquistador de hoje, que utiliza os meios virtuais para seus galanteios e amores fortuitos. O diretor vê no texto clássico de Moliére uma atualidade e mais do que comédia, a peça é uma “quase tragédia”:
“O humor de Dom Juan é consequência da exacerbação do dramático do texto e mesmo assim não é um riso ingênuo, mas um riso nervoso e amargo. Quatro séculos depois, a atualidade da obra, a descrição de tipos humanos e arquétipos são surpreendentes. Mais do que o sedutor predatório, Dom Juan de Moliére é um tratado sobre a hipocrisia, a ilustração de um mito do individualismo moderno, uma denúncia contundente sobre os vícios e perversões de nossa época”, argumenta Pereira.
Além do texto corrosivo e envolvente — nos diálogos, cada personagem discorre suas ideias sem interrupções abruptas, são verdadeiros ‘bifões’ ou grandes falas —, o que mais me chamou a atenção foi o cenário criado pelo diretor; os ambientes são formados por grandes módulos espelhados, que são movimentados a cada cena, contribuindo para o jogo narcisista e sedutor do personagem central. Os espelhos e a iluminação precisa de Domingos Quintiliano compõem ainda o clima perfeito para as conquistas e relações calientes do protagonista.
A composição dos personagens é outro trunfo desta montagem: tanto Rodrigo Lombardi como Eduardo Estrela, que vive o fiel criado Esganarelo, permanecem no palco durante quase todo o tempo e a sintonia entre eles é impecável. O clássico Dom Juan de Moliére nas mãos de William Pereira é um espetáculo arrojado e instigante.
Fotos: Lenise Pinheiro
6 Comentários
Sergio
abril 15, 2012 @ 12:58
Assisti a peça ontem (14.04) e achei a montagem muito boa…. As peças do Moliere são sempre maravilhosas e atualíssimas…. A hipocrisia do ser humano que ele sempre aponta em seus roteiros não mudou nada em 300 anos !!!!! Basta vermos as notícias que nos chegam do nosso centro do poder. As atuações foram muito corretas, destacando-se o Eduardo Estrela eo Roberto Arduim. No papel principal, o Rodrigo Lombardi teve um desempenho competente, porém insistiu em copiar os trejeitos do Johnny Depp em Piratas do Caribe quase todo o tempo…… Acho que ele tem talento para desenvolver sua própria interpretação.
Maurício Mellone
abril 16, 2012 @ 14:22
Sergio:
Vc tem toda a razão com relação à atualidade dos textos de Moliére!
Hipocrisia é a tônica de Dom Juan e aqui no Brasil vemos este tipo
de sentimento a toda hora…. infelizmente.
Obrigado pela visita e volte sempre
abr
Wagner
abril 11, 2012 @ 22:36
É a primeira vez assisto a uma peça com o ator Rodrigo Lombardi (só havia assistido suas atuações na TV) achei muito bom! Dom Juan faz pensar muito sobre o que acontece hoje em dia: as pessoas estão querendo a conquista pela consquista, apenas. Acho que o amor é mais do que isto; quando se ama de verdade, não se consegue ver ninguém além do ser amado. Mais é fantástico o retrato do universo de um sedutor incrivel como Dom Juan! Eu adorei!
Maurício Mellone
abril 12, 2012 @ 15:16
Wagner:
Obrigado por sua participação aqui no Favo; fico contente que vc tenha gostado da peça
e refletido sobre o mito de Dom Juan retratado por Moliére; como é atual, quantos Dons Juans
cruzamos pelas cidades de hoje em dia!
Bjs e volte sempre!
Wagner
abril 13, 2012 @ 15:26
Sim! Você tem razão ! Está cheio de Dom Juan por ai.
Maurício Mellone
abril 13, 2012 @ 17:50
Wagner:
Isto é mais uma prova da atualidade de Moliére!
bjs