De Maurício Mellone em agosto 16, 2019
Depois do documentário de 2009, Simonal: ninguém sabe o duro que dei, dos diretores Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, o cantor e compositor carioca Wilson Simonal de Castro ganha um longa-metragem sobre sua vida e sua carreira. Simonal, do diretor Leonardo Domingues, traz o ator Fabrício Boliveira na pele do artista, em excepcional performance. A trama faz um recorte na vida de Simonal, mostrando seus primeiros passos na carreira, o estrondoso sucesso nas décadas de 1960 e 1970, seu primeiro casamento com Tereza Pugliesi, vivida por Isis Valverde, o nascimento dos dois filhos (Simoninha e Max) e o escândalo envolvendo seu contador, que levou o cantor a pedir ajuda de policiais do DOPS, que depois o prenderam. Numa sequência de atos impensados, num momento histórico delicado de censura e arbitrariedades da ditadura militar, Simonal foi vítima de mentiras (naquele tempo já existia as fake news) e sua carreira nunca mais se recuperou, morrendo aos 62 anos, em 2000, longe dos milhões de fãs conquistados no início da carreira.
O filme começa com um grande plano sequência — cena filmada sem cortes, para causar emoção e impacto —, mostrando a tentativa de amigos de Simonal de reintroduzi-lo à cena musical, em 1975. Infelizmente a reação da plateia foi negativa e o cantor não conseguiu reverter o estado de ânimo da opinião pública contra ele. Corte e o diretor, que assina o roteiro em parceria com Victor Atherino, leva a história para o final dos anos 1950, com Simonal em início de carreira fazendo parte de um grupo vocal. Na participação deles no programa de Carlos Imperial, interpretado por Leandro Hassun, Simonal é convidado a trabalhar como secretário do apresentador. Logo ele começa a cantar na noite carioca e, graças a seus recursos vocais e sua ginga, surgem os convites para gravar. A carreira deslancha, com turnês e participações na TV e ele conquista um sucesso monumental, inclusive financeiro (com contratos de propagandas de multinacionais).
Destaque para dois momentos realçados no filme: numa apresentação de seu programa na TV, ele inicia o hit Meu limão, meu limoeiro, a plateia entoa em coro e ele deixa o palco e vai até o boteco, toma um drink e volta para encerrar a canção. O segundo destaque é a apresentação no Maracanãzinho, em que Simonal foi ovacionado depois de reger a multidão (o diretor usou imagens originais).
Sucesso estrondoso, fama, dinheiro, ostentação e gastos desmedidos. O descontrole financeiro é que detonou o fim lamentável da carreira: Simonal acusa o contador, que é preso e policiais do DOPS o torturam para que confesse o rombo nas finanças do cantor. Simonal confiou em pessoas erradas e, por irresponsabilidade ou ingenuidade, se viu envolvido em denúncias de delação e comprometimento com a ditadura. Com dificuldade em desmentir tais acusações, Simonal vê ruir sua carreira e prestígio e morre quase no ostracismo. Talvez pela dificuldade de elucidar tudo o que aconteceu naquele momento de censura e opressão, o roteiro do filme também se perde no final.
Domingues retoma a cena inicial, com Simonal cantando no mesmo local, só que para uma plateia vazia. Além da excepcional atuação de Fabrício Boliveira, destaque para a bela direção de arte e a trilha sonora assinada pelos filhos do cantor, Max de Castro e Simoninha. Como aperitivo do filme, fique com a apresentação de Simonal de sua música em parceria com Ronaldo Bôscoli, Tributo a Martin Luther King:
Fotos divulgação
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