De Maurício Mellone em outubro 2, 2018
Premiado no Festival de Cinema de Gramado deste ano com dois kikitos — ator para Osmar Prado e ator coadjuvante para Ricardo Gelli, o filme de José Alvarenga Jr., 10 Segundos para Vencer, retrata a vida e a carreira de Eder Jofre, campeão mundial de boxe em duas categorias (galo e pena), feito raríssimo no esporte. O boxeador é vivido nas telas por Daniel de Oliveira, em uma emocionante composição.
Com roteiro de Thomas Stavros, a cinebiografia faz um recorte na vida de Eder Jofre: a trama começa com ele ainda criança acompanhando o trabalho do pai, Kid Jofre, interpretado por Osmar Prado, na academia de boxe da família, no bairro do Peruche em São Paulo, treinando o cunhado Zumbanão (Gelli), que não foi muito longe na carreira. Com o fracasso do tio, o garoto pede ao pai que o faça um campeão. A sequência mostra a carreira do boxeador (seus altos e baixos) até a conquista do segundo título mundial, em 1973.
As primeiras cenas do filme são com Eder Jofre, aos 37 anos, nos vestiários do estádio de Brasília, prestes a entrar no ringue para a disputa do cinturão de campeão de peso pena. O atleta refletia sobre sua trajetória até então e a trama faz um recuo no tempo, quando ele era um garoto e nem sonhava em se tornar um boxeador. Edinho (como era chamado pelos familiares) acompanhava os passos do tio Zumbanão, que era a esperança da família para que pudessem ter melhores condições de vida. Como o rapaz era mais briguento do que boxeador, sua carreira não decolou e é neste momento que Eder passa a encarnar o sonho tanto de Kid como da família de se tornar um campeão de boxe. Com uma careira em franca ascensão, Eder Jofre logo se torna campeão brasileiro, depois campeão sul-americano e campeão mundial peso galo. Daí seu apelido de ‘Galinho de Ouro’.
Paralelamente aos ringues, Eder se apaixona por Cida, vivida por Keli Freitas, e eles se casam, tendo um casal de filhos. A vida em família é prejudicada pela carreira e pelo esforço extremo de um boxeador (chegar ao peso ideal para cada luta sempre requer o máximo do atleta). Com as duas derrotas (únicas da carreira), Eder resolve abandonar o ringue e, ao contrário do que pensava, entra em crise existencial. Graças ao ‘puxão de orelha’ do pai e incentivo da esposa, o campeão volta a lutar, agora em outra categoria, peso pena, e as glórias também retornam. E o filme volta à cena inicial, com a disputa do cinturão, em 1973.
Único senão de 10 Segundos para Vencer é pela opção da direção em não contextualizar o período de ascensão do campeão Eder Jofre (em plena ditadura militar, a única referência histórica é sobre o pedido do general presidente Médici para que Eder lhe desse as luvas de campeão, mas ele se recusa). A trama opta por mostrar tanto o atleta como o homem Eder Jofre, com suas dúvidas e escolhas, sendo elas certas ou não. E a relação familiar, tanto entre pai/treinador e filho/atleta como de marido e mulher, é valorizada no filme. José Alvarenga também se dedica à interpretação dos atores, tanto que a composição de personagem, tanto de Daniel como de Osmar e Gelli, é de excelência. Destaque ainda para Sandra Corveloni no papel de Angleina, mãe do campeão.
Como neste país os grandes ídolos, com o passar dos anos, são esquecidos, que este filme possa resgatar a importância que Eder Jofre tem para a história do esporte nacional e mundial — as cenas recuperadas do atleta e inseridas no filme podem ajudar as novas gerações a entender o valor do nosso bicampeão mundial de boxe. Filme emocionante, não perca!
Fotos: divulgação
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