De Maurício Mellone em janeiro 31, 2019
Escrita de forma truncada e fragmentada, peça de Sergio Mello, Rio Grande, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, retrata o drama de um metroviário, interpretado por Ricardo Gelli, que cometeu um crime virtual/digital e, para se defender, faz um mergulho dentro de si para descobrir as verdadeiras respostas para as suas atitudes.
A narrativa tem três fios condutores: o primeiro quando o personagem está diante do computador em busca de homens para se relacionar com sua mulher; o segundo momento é ele diante do delegado tentando se defender e por último temos o metroviário, num mergulho em suas entranhas, refletindo sobre as razões que o levaram a cometer o suposto crime cibernético.
Com direção do próprio autor e uma produção muito bem cuidada, a trama começa com o ator estático no centro do palco e em suas costas é projetada a imagem de um homem com o dorso nu. O relato do personagem só começa depois que ele veste a camiseta e a camisa. Aí sim o público percebe que ele está sentado ao lado de duas mesas, cada uma com uma série de copos, de todos os tipos e tamanhos.
A narrativa fragmentada, em três níveis, tem início quando ele se dirige para um lado e é o momento das conversas na internet, em chats de relacionamento, em que o metroviário procura por homens que aceitem se relacionar com sua esposa. Corte e ele se direciona ao lado oposto, quando presta depoimento ao delegado sobre o suposto crime digital. O terceiro momento narrativo é quando o personagem caminha em linha reta até bem perto da plateia e faz reflexões existenciais, tentando entender as razões de seus atos. Nestes momentos de busca interior, imagens de um rio projetadas no fundo do palco ajudam a entender o mergulho do personagem para dentro de si.
Não há nada explícito e dentro deste quebra cabeças o espectador é convidado a criar o enredo e a trajetória daquele homem em crise.
“O texto foi escrito em cima da figura do ‘homem de bem’ e, para compô-lo, a encenação se utiliza de símbolos comuns a ele dispostos no texto, como família, religião e sexualidade. Por meio de blocos de linha de pensamento, desvenda-se sem muita clareza a natureza, a aridez e as incongruências desse cidadão comum”, explica Sergio Mello.
Há vantagens e desvantagens pelo fato da peça não conter uma linearidade e clareza dos atos do personagem. Ao precisar desvendar os mistérios da vida do metroviário, o espectador é obrigado a refletir sobre seus próprios atos. No entanto, como não há pistas explícitas, o público pode se sentir confuso e assim a compreensão da proposta dramatúrgica fica comprometida. Entretanto, há de se ressaltar a performance de Ricardo Gelli, que variando a modulação de voz, posturas em cena e inflexões consegue transmitir o drama multifacetado do personagem. Destaque ainda para a precisa marcação de cena e a iluminação, elementos fundamentais para a condução narrativa. Espetáculo denso e reflexivo.
Roteiro:
Rio Grande. Texto e direção: Sérgio Melo. Atuação: Ricardo Gelli. Cenário e figurino: Sérgio Melo e Ricardo Gelli. Video grafismo, videomapping e sonoplastia: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo). Iluminação: Ricardo Gelli. Fotografia: Zyon Colbert. Produção executiva: Elder Fraga, Nicolle Albiero, Sérgio Melo e Ricardo Gelli. Direção de produção: Elder Fraga. Realização: RG44 Produções artísticas.
Serviço:
Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno (144 lugares), Rua Rui Barbosa, 153, Tel. 11 3288-0136. Horários: sexta e sábado às 19h e domingo às 17h. Ingressos: R$ 50 e R$ 25. Venda: bilheteria e ingressorapido. Duração: 55 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 17 de março.
Deixe comentário