Depois Daquela Viagem: do livro para o palco, uma história real e comovente sobre a adolescente que contraiu Aids

De em outubro 6, 2011

Renata Fasanella, uma das que vive Valéria, em cena com todo o elenco

A história de Valéria Piassa Polizzi é conhecida por muitos graças ao seu livro, Depois Daquela Viagem (Editora Ática), lançado há 13 anos em que ela relata sua experiência de vida, desde que contraiu o vírus HIV na primeira relação sexual (“sem camisinha”) aos 16 anos, até superar suas limitações interiores e enfrentar a doença. Hoje Valéria, com 40 anos, é exemplo de pessoa que soube lidar com a Aids e passou a lutar contra o preconceito e a discriminação. Do livro — um best-seller que já vendeu mais de 300 mil exemplares e foi editado em diversos países—, Depois Daquela Viagem foi transposto para o teatro pelo dramaturgo Dib Carneiro Neto e acaba de estrear no Teatro Anchieta, SESC Consolação, em curta temporada: quartas e quintas somente até dia 20 de outubro.
No programa de apresentação da peça, a jornalista e produtora do espetáculo Roseli Tardelli diz esperar que este trabalho contribua contra a ignorância e a falta de informação sobre Aids:
“As pessoas infectadas com o vírus HIV causador da Aids ainda sofrem com preconceito e discriminação. Hoje, análise de dados epidemiológicos aponta a feminização da epidemia, com maior atenção à faixa etária de 13 a 19 anos, em que existem oito casos em meninos para cada 10 em meninas. Creio que o livro da Valéria, transformado agora em peça teatral, vai atingir este público e possibilitar uma reflexão dos jovens sobre sua vulnerabilidade!”, atesta.
Taí a maior contribuição do espetáculo: ser didático ao mostrar no palco uma história real e bem próxima dos adolescentes. Com o vigor dos 14 jovens atores no palco, a história de Valéria Polizzi é apresentada de maneira ágil e criativa. Ela é interpretada por três atrizes, que vivem momentos distintos de sua vida: na infância, na adolescência e com 20 poucos anos quando assumiu o tratamento. Sem se ater à cronologia dos fatos, a narrativa tem idas e vindas no tempo e o público pode ir construindo a dura e sofrida experiência de vida da personagem. A relação de Valéria com os pais, sua forte ligação com os amigos na adolescência e o drama de aprender a conviver com a doença são mostrados com dinamismo pelos atores, que se revezam vivendo diversos personagens.

Numa festa, personagens brincam alegremente

A peça mostra muito bem o sofrimento tanto físico como psicológico de Valéria, que além dos problemas físicos causados pelo vírus da Aids, sentiu na pele o que é o preconceito, no Brasil e nos EUA, onde viveu alguns anos depois de saber da contaminação. Até Valéria entender que era possível se tratar (fugiu o quanto pôde do tratamento com anti-retrovirais), sua trajetória foi de solidão e sofrimento interior. A peça dá ênfase a essa fase da vida de Valéria e, no meu entender, deveria também enfatizar o vacilo da personagem ao transar com o namoradinho sem usar camisinha.
Confesso que tive receio em assistir à peça, por já ter vivido muito de perto o drama que a Aids provoca. Felizmente o espetáculo mostra, além da dificuldade de se ver contaminada, como Valéria soube lidar com a doença e hoje luta contra a discriminação, a intolerância e o preconceito. Valéria, como inúmeras pessoas hoje em dia no mundo, convive com a doença e tem uma vida normal. Ela optou pela vida e soube dizer um NÃO ao atestado de morte que a Aids já foi um dia.

Fotos: João Caldas


2 Comentários

Luiz

outubro 8, 2011 @ 00:16

Resposta

Oi, Maurício, como você pode ver o sagitariano aqui mora longe, mas é rápido no gatilho, digo, no olhar e no teclado. Já dei uma espiada no seu espaço virtual e nessa resenha bem escrita e convidativa sobre a peça em questão. Fiquei interessado em ler o livro, ver o espetáculo, dar um sim à soropositividade, encará-la (como Valéria) e emitir um Não às restrições, às limitações que emperram a vida. Como se disse na peça ‘Solidão, a comédia’: saboreemos a vida. Como bom sagitariano que sou, arrisco a dizer o seguinte: arrisquemo-nos, pois não temos nada a perder, já que a vida é feita para isso mesmo, para ser vivenciada. Se houver mancada, faz parte do jogo. Como cantaria a Elis : ‘vivendo e aprendendo a jogar’.
Muito mel na sua vida, no seu blog e na realização dos seus projetos.
Luiz Líbano.

Maurício Mellone

outubro 9, 2011 @ 17:33

Resposta

Luiz:
Muito obrigado pela força! Não deixe de assistir (em curta temporada) a peça baseada no livro (e na vida) de Valéria Polizzi.
Volte sempre me visitar, será sempre muito bem-vindo!
bjs

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