De Maurício Mellone em setembro 12, 2018
A comovente história da jovem migrante do interior que vem para a capital tentar a sorte depois de ficar órfã e muito sofrer, mote central do conto de Lygia Fagundes Telles, está de volta aos palcos. A Confissão de Leontina, conto publicado no livro A estrutura da bolha de sabão, foi adaptado por Marcio Trinchinatto, que também interpreta a personagem título.
Com direção de Kleber Montanheiro, responsável também pelo cenário e figurino, a montagem, em sua segunda temporada, está agora no Viga Espaço Cênico, com sessões somente às sextas, até novembro. A concepção da interpretação é baseada na tradição do teatro, em que papéis femininos eram desempenhados por homens. Trinchinatto incorpora Leontina, que desde a primeira fala se propõe a contar sua trajetória de vida.
O início do espetáculo é com o ator sentado de costas para a plateia; ao se virar para a frente, a personagem diz que precisa contar sua história. Começa falando como chegou à capital, praticamente fugindo da megera da antiga patroa, e de seu encontro com aquele que se tornou seu primeiro namorado. De forma sutil, o relato daquela garota sobre sua vida sofrida logo cativa o espectador. O texto de Lygia, rico em detalhes, altera a cronologia dos fatos e assim Leontina faz um retrospecto de toda a sua trajetória.
Depois dos primeiros tempos na capital, ela se recorda dos principais fatos da vida, desde o período da infância, em que vivia ao lado da mãe, da irmãzinha e do primo, sua orfandade, a desilusão com o primo, o abandono, o primeiro emprego como doméstica, a fuga e seus tempos duros atuais. Já totalmente imerso na narrativa é que o espectador compreende que a personagem está presa e é da cadeia que faz sua confissão.
“Este texto é para mim uma poesia sobre ser brasileiro. É a história que precisa ser contada diversas vezes para revelar os interesses escusos, acolher a benevolência e refletir sobre o comportamento humano”, argumenta Marcio Trinchinatto.
Além da rica dramaturgia, a montagem ganha ainda mais vigor graças à direção, que valoriza a sensível e comovente atuação de Trinchinatto. A iluminação Rodrigo Oliveira é outro elemento forte, pois pontua a condução da narrativa. Destaque ainda para o cenário, constituído apenas por uma madeira suspensa que serve como banco (e vira também uma cama): com a ajuda dos efeitos da luz, ao final o espectador sabe que a personagem está numa prisão.
Mais do que me encantar com a apresentação, o espetáculo me remeteu aos anos 1990, para a impactante montagem dos saudosos Olair Coan (indicação a prêmios por sua atuação) e Oswaldo Boaretto Jr.(direção) para o mesmo conto de Lygia Fagundes Telles. Que esta nova versão de Trinchinatto e Montanheiro sirva também como uma homenagem a estes talentosos artistas que nos deixaram tão precocemente.
Roteiro:
A Confissão de Leontina. Texto: Lygia Fagundes Telles. Direção, cenário e figurino: Kleber Montanheiro. Elenco: Marcio Trinchinatto. Iluminação: Rodrigo Oliveira. Programação Visual: Victor Iemini. Fotografia: João Caldas. Produção: Jeferson Calli.
Serviço:
Viga Espaço Cênico (lugares), Rua Capote Valente, 1323, tel. 11 3801-1843. Horário: sexta às 21h. Ingressos: R$ 40 e R$ 20. Duração: 75 min. Classificação: 10 anos. Temporada: até 09 de novembro.
2 Comentários
Priscila Moraes
setembro 13, 2018 @ 07:53
Já é a segunda vez que vou a peça: A Confissão de Leonina e sempre me surpreendo com o ator Marcio Trinchinatto! Adoro a forma o qual ele protagoniza vários personagens… Vale a pena assistir! A Confissão de Leonina é uma realidade da vida …
Maurício Mellone
setembro 13, 2018 @ 10:06
Priscila,
realmente o Marcio está muito bem em cena, dando
vida não só à Leontina como a todas as pessoas
do relacionamento dela.
Um texto primoroso da grande escritora paulista,
Lygia Fagundes Telles, com uma direção que valoriza
a atuação do ator.
Obrigado pela visita e volte sempre
Bjs