Quando as máquinas param: versão online da peça de Plínio Marcos

De em março 30, 2021

André Kirmayr e Larissa Ferrara vivem um casal que sofre com a carestia dos anos 1960

 

 

Mais de 50 anos depois de ter sido escrita, a peça de Plínio Marcos, Quando as máquinas param, infelizmente permanece atual. Talvez por causa disto que a Companhia Colateral e o diretor Kiko Rieser resolveram montá-la neste período tão caótico em que vivemos hoje. A trama original se passa pouco antes da decretação do AI nº 5, um dos instrumentos mais autoritários impostos pela ditadura militar que governava o país na época. Além das liberdades cerceadas, a carestia e o desemprego eram altos. Na trama o casal Zé e Nina, vividos por André Kirmayr e Larissa Ferrara, se vê em apuros quando ele perde o emprego e as costuras que ela faz mal conseguem colocar o que comer na mesa.

 

Num misto de teatro e cinema, o espetáculo em preto e branco (P&B) é exibido gratuitamente às segundas e terças até final de abril pelo canal You Tube do Centro Cultural São Paulo.

 

 

Atores são dirigidos por Kiko Rieser

 

 

Nestes tempos de pandemia, cada vez mais os artistas buscam alternativas para manter o teatro vivo e acessível ao público. Difícil definir ou classificar o produto; assistimos a peças ao vivo com transmissão online, peças filmadas e até produções mistas, que unem cenas ao vivo com vídeos. Para o texto de Plínio Marcos, o diretor, também responsável pela filmagem, criou um produto que une teatro e cinema: a ação se passa num apartamento em que os atores se movimentam e são acompanhados pela câmera. São grandes planos-sequência em que a ação se desenvolve sem cortes, a câmera é o terceiro personagem. Com dificuldade para definir o espetáculo, Kiko Rieser chega a chamar de peça online ou peça audiovisual.

 

 

Independente de como foi produzido, o espetáculo retrata o cotidiano de um casal de classe média baixa, que até então sobrevivia sem luxo, mas mantendo as contas em dia. Mas tudo muda quando Zé é demitido da fábrica e os trabalhos de costureira de Nina não conseguem sustentar as despesas da casa. Se até então havia harmonia entre eles, com a carestia as diferenças e visões de mundo entre Zé e Nina ficam à flor da pele, provocando conflitos intransponíveis.

 

 

 

 

 

 

 

“Provavelmente hoje esta é a peça de Plínio Marcos que mais fala à nossa realidade. Expondo uma situação de colapso econômico e social, em que demissões em massa dissolviam famílias e levavam pessoas a mais profunda miséria, o texto ganha renovada pungência hoje, quando batemos recordes de desemprego, tendência que só tende a se agravar com as consequências da pandemia”, argumenta Kiko Rieser.

 

 

 

 

 

Além de o texto provocar esta identificação com o momento atual, Quando as máquinas param se destaca pelo formato criativo de sua produção: a câmera tem um papel vital no desenvolvimento da trama, impondo ritmo e marcando mudanças de tempo. A cenografia e o figurino merecem ser ressaltados: o apartamento foi totalmente adereçado, com os objetos de cena trazendo o espectador para a década de 1960. Destaque ainda para a sonoplastia, com a reprodução de radionovela, comerciais e noticiários. A sintonia entre os atores enriquece a montagem: André e Larissa mostram a evolução (ou involução) da vida de Zé e Nina, da perfeita união à total desarmonia. Não perca, sessões só às segundas e terças.

 

 

 

 

Roteiro:
Quando as máquinas param
. Texto: Plínio Marcos. Direção e trilha sonora: Kiko Rieser. Elenco: André Kirmayr e Larissa Ferrara. Cenário e figurinos: Kleber Montanheiro e Thaís Boneville. Iluminação: Kleber Montanheiro. Edição e mixagem da trilha: Rodrigo Florentino. Vozes atores radionovela: Amanda Acosta e Joca Andreazza. Voz locução novela: André Kirmayr. Direção de produção e câmera: Kiko Rieser. Fotografia: Heloísa Bortz. Realização: Companhia Colateral e Rieser Produções Artísticas.
Serviço:
Horários: segunda e terça às 20h. Ingressos:  gratuitos. Duração: 85 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 20 de abril de 2021. Link de transmissão: http://youtube.com/CentroCulturalSaoPauloCCSP


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