De Maurício Mellone em agosto 13, 2014
Mais do que merecido! No ano em que o escritor, compositor, cantor e dramaturgo Chico Buarque completa 70 anos de vida, as homenagens a ele pululam. Só em São Paulo estão em cartaz três espetáculos: Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos, da dupla Claudio Botelho e Charles Möeller, que conta a trajetória de uma trupe teatral por meio das músicas do aniversariante, O Grande Circo Místico, musical de Chico e Edu Lobo dirigido por João Fonseca e a versão da Cia da Revista para o clássico musical de Chico, Ópera do Malandro, que acaba de estrear no CCBB-SP, em curtíssima temporada, só até o final de agosto.
A montagem do grupo paulistano Cia da Revista, que tem 17 anos de existência, é a primeira parte de um projeto maior em homenagem ao artista:
“Fez-se necessário para a Cia da Revista o encontro com esse artista que como ninguém soube revistar o Brasil por meio de suas composições, que retratam diversos períodos da nossa história”, diz o diretor do espetáculo e da Cia, Kleber Montanheiro, que adianta que a segunda parte do Projeto Chico 70 se completa com a estreia de Reconstrução, peça autoral do grupo com personagens das canções de Chico.
A versão do grupo para Ópera do Malandro é uma leitura contemporânea do musical. Para o diretor, está mais focada na obra do autor:
“O poder do capital, a luta de classes e as relações cordiais entre as personagens também são marcas da montagem. A peça poderia acontecer tanto nos anos de 1940, como ambientado no texto original, como na década de 1970, quando foi montado pela primeira vez, ou ainda nos dias atuais”, diz o diretor, que assina cenário e figurino.
Numa superprodução que envolve 18 atores e três músicos em cena (todos de figurino preto), a trama gira em torno da família do cafetão Duran (Gerson Steves), sua mulher Vitória (Heloísa Maria) e da filha Terezinha (Erica Montanheiro), que se casa com o malandro e contrabandista Max Overseas, vivido por Flávio Tolezani. Duran não aceita o envolvimento da filha com o trambiqueiro, que é amigo de infância do chefe de polícia Chaves, o Tigrão (Adriano Merlini), que por sua vez acoberta os negócios escusos do cafetão. Quem perambula entre todos estes personagens é a travesti Geni, numa interpretação de Kleber, que a criou de forma bandida e andrógina.
Prostituição, contrabando, corrupção, romance e traição são elementos que complementam a trama criada por Chico, inspirada na peça Ópera dos Três Vinténs, escrita por Bertolt Brecht em 1928, que também buscou inspiração na Ópera dos Mendigos, de John Gay de 1728.
O destaque da montagem é sem dúvida para a interpretação de 16 canções, dentre elas os sucessos como O Meu Amor, Pedaço de Mim, Geni e Zepelim , e claro, O Malandro, versão de Chico para a música de Kurt Weill e Brecht.
Outro destaque é para o cenário, que se divide em três, o bordel, o esconderijo de Max e a cadeia: em todos eles os objetos são criativamente constituídos de ripas de madeira entrelaçadas. O palco do CCBB, por ser pequeno, não permite que a montagem de Ópera do Malandro ganhe a dimensão imaginada pelo diretor. O espetáculo está contido e, em alguns números musicais, o elenco fica espremido entre o cenário e as limitações do palco. Na nova sede da Cia da Revista, a ser inaugurada em setembro, o musical pode crescer, estar mais estruturado, além de maior entrosamento do talentoso elenco com este musical grandioso do mestre Chico Buarque.
Fotos: Bob Sousa
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