De Maurício Mellone em janeiro 17, 2014
Vencedor do Globo de Ouro de filme estrangeiro, A Grande Beleza (La grande bellezza) também é indicado (e favorito) ao Oscar/2014 na mesma categoria. Mais do que merecida qualquer premiação a este filme do diretor Paolo Sorrentino, responsável também pelo roteiro: a trama fisga o espectador desde as primeiras tomadas sobre a cidade de Roma (personagem importantíssimo do filme) e a partir do desenrolar da história o encantamento é ainda maior. Como prólogo, o diretor cita o texto Viagem do Fim da Noite, do escritor maldito Louis-Ferdinand Céline, que serve como uma luva:
“Viajar é útil, exercita a imaginação. Aliás, à primeira vista todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida”.
E a viagem tem como ponto de partida a reflexão que o escritor Jep Gambardella, numa interpretação marcante de Toni Servillo, faz sobre sua vida. A partir da festa de seus 65 anos — regada a muita bebida, droga, sexo e luxúria —, Jep procura pessoas importantes de sua existência e tenta resgatar o sentido da vida.
Numa referência ao mestre Federico Fellini com seus maravilhosos A Doce Vida e Roma, Sorrentino faz uma crítica ácida à alta sociedade italiana contemporânea (mas poderia ser à sociedade de qualquer país deste início de século XXI) por intermédio das reflexões de Jep, um escritor rico que vive das glórias de seu único livro de sucesso e que hoje é repórter de uma revista de celebridades.
Tanto por meio de suas reportagens como por comentários corrosivos das pessoas que o rodeiam, Jep faz uma radiografia crítica da sociedade, ao mesmo tempo em que provoca uma autoanálise. Ao saber da morte de sua primeira namorada, ele começa uma revolução interior e sai em busca de pessoas amigas que ficaram em seu passado. Deste resgate interno é que, talvez, o escritor volte a exercer sua profissão novamente. Mas o diretor não deixa isto claro, depende da interpretação do espectador.
Exposto desta forma, parece que o filme é direto e objetivo. Pelo contrário: em diversos momentos da projeção fiquei sem saber para aonde o roteiro iria. Alguns personagens, por tão estanhos e enigmáticos, provocam distanciamento. A madre (tida como santa) é um destes personagens bizarros, mas que merece reflexão (a religiosidade e o catolicismo na Itália necessitam de uma análise mais aprofundada). Saí encantado com o filme (as tomadas de Roma deixam qualquer um embevecido), mas com necessidade de comentar e checar as propostas do filme com alguém.
Não deixe de assistir e, se puder, comente aqui para trocarmos opiniões!
Fotos: divulgação
6 Comentários
paulo
junho 13, 2016 @ 04:25
excelente texto par um magnífico filme
há muito tempo não saía tão tocado após qualquer obra de arte, aliás é assim que encaro este filme, como uma obra de arte.
Acho muito interessante quando vc afirma, pra mim de maneira correta, que o filme não é direto nem objetivo. No entanto, acredito que cada cena, cada detalhe, é carregado significado, mesmo que muita vezes poético e de interpretação talvez quase inexplicável.
Maurício Mellone
junho 14, 2016 @ 11:28
Paulo,td bem?
Redigi esta resenha há muito tempo…Obrigado por sua visita
abr e volte sempre
Alberto
abril 17, 2016 @ 21:06
Foi Com muita alegria e satisfação que li a sua critica , assisti a este filme com os olhos de quem adora este tipo especifico de cinema (acredito que filmes assim são eternos) , parabéns pela ótima resenha .
Maurício Mellone
abril 18, 2016 @ 14:39
Alberto,
faz tempo q redigi a resenha sobre este filme (A Grande beleza…),
agradeço da mesma forma seu comentário.
Volte sempre
abrs
Nelson Cerino
julho 16, 2014 @ 10:39
Concordo muito com o texto. E mais. O filme de Sorrentino fala da sociedade Italiana contemporânea, de Berlusconni, do empobrecimento de uma cultura milenar. Por tabela é possível dizer que o filme fala de qualquer outra grande cidade contemporânea, mas o recorte é a Itália de hoje, respingando em toda problemática atual européia.
Maurício Mellone
julho 17, 2014 @ 12:07
Nelson,
fico contente q vc tenha apreciado minha resenha e tenha acrescentado
este dado da Itália da era Berlusconni.
Indico o filme “Viva a Liberdade”, com o mesmo ator de “A Grande Beleza”, Toni Servillo.
Tenho certeza q irá gostar; volte depois e deixe seu comentário.
abr e obrigado