De Maurício Mellone em junho 22, 2013
A época de lançamento do filme da diretora Lucia Murat, A Memória que me Contam, não podia ser mais adequada. Hoje em que o Brasil vê ressurgir um movimento popular de protesto de rua por melhoria das condições de vida, este filme ajuda a refletir sobre o movimento de resistência à ditadura militar ocorrida no país nos anos 60 e 70.
Com a morte iminente de Ana, interpretada por Simone Spoladore, que participou do sequestro do embaixador norte-americano em 1969, seus amigos e companheiros de militância política se reencontram na sala de espera do hospital. O passado vem à tona por meio das lembranças que cada um tem ao lado de Ana, que só aparece jovem, ao mesmo tempo em que eles discutem a realidade atual do país e reavaliam suas atuações políticas e posturas diante da vida.
A narrativa do filme é como um grande quebra-cabeça, com cenas intercaladas entre o passado e o presente. O elo de ligação entre os personagens é sempre Ana, que aparece tanto na época que era uma guerrilheira como hoje, na imaginação dos amigos, que viveram intensamente na juventude. No entanto, com a distância imposta pela vida e as experiências comuns de cada um, há um conflito entre eles sobre antigas ideologias, atitudes políticas e a visão de mundo da atualidade. Mas o amor e a relação com Ana unem a todos. Irene, vivida por Irene Ravache, é cineasta e se vê na obrigação de fazer um filme em homenagem à amiga; Paolo, interpretado pelo italiano Franco Nero, é casado com Irene e durante a internação de Ana é preso devido a ações revolucionárias que participou na Itália. José Carlos (Zecarlos Machado) é hoje ministro da Justiça e propõe a criação da comissão da verdade. Henrique e Zezé, vividos por Hamilton Vaz Pereira e Clarisse Abujamra, têm visões opostas sobre política, assim como o médico Ricardo, interpretado por Otávio Augusto, que virou um conservador. O contraponto na vida deste grupo é exercido pelos jovens, que não participaram da resistência política e veem o mundo sob outra ótica e ética. Eduardo (Miguel Thiré), filho de Irene, é artista plástico e vive uma apaixonada relação com Gabriel (Patrick Sampaio), filho de Ricardo; já Cloé (Naruna Kaplan de Macedo), sobrinha de Ana, vive na França, desconhece totalmente a realidade brasileira, mas vem para se despedir da tia.
Com roteiro de Lucia Murat e de Tatiana Salem Levy, A Memória que me Contam me remeteu a outro emocionante filme, o canadense Invasões Bárbaras, do diretor Denys Arcand, em que o protagonista está doente e reúne velhos amigos e parentes para passar seus últimos momentos de forma agradável. No filme de Lucia Murat, Ana também consegue reunir os amigos e a emoção que provoca é a mesma, tanto para os personagens como para o espectador, que se identifica com a história narrada. Fiquei comovido, principalmente com a visão sobre a perda de alguém querido, que provoca o reposicionamento pessoal diante da vida.
Imperdível!
Fotos: divulgação
4 Comentários
Marcos Doniseti
março 27, 2016 @ 18:54
Também gostei muito do filme, bem como da sua resenha, que divulguei no Twitter e no Facebook.
Maurício Mellone
março 28, 2016 @ 10:33
Marcos,
faz tanto tempo q redigi esta resenha sobre o filme da Lucia Murat.
Walmor Chagas em bela performance, uma das últimas de sua carreira.
Obrigado pela vista, volte outras vezes.
abrs
Alexandre
janeiro 5, 2015 @ 12:18
É sempre bom ouvir a história do ponto de vista de quem viveu os fatos. Com tanta gente pedindo a volta dos militares, o filme se torna obrigatório! Tem uma crítica em http://www.artigosdecinema.blogspot.com/2014/12/a-memoria-que-me-contam.html
Maurício Mellone
janeiro 5, 2015 @ 12:41
Alexandre,
q bom q vc deixou seu comentário sobre o filme da Lucia Murat;
faz muito tempo q escrevi a resenha!
Um abraço e volte sempre!