De Maurício Mellone em abril 1, 2014
Há muito um espetáculo não me emocionava tanto! Sai da sala do Teatro FAAP depois de assistir a comédia da dramaturga israelense Anat Gov, Meu Deus!, comovido e refletindo sobre minhas convicções sobre Deus. Com humor refinado, a autora — que prematuramente faleceu em 2012, vítima de câncer — provoca o espectador a refletir profundamente sobre a existência humana. Ao procurar uma terapeuta que se diz ateia, papel brilhantemente defendido por Irene Ravache, Deus, encarnado por Dan Stulbach, se mostra deprimido e em crise justamente pelo resultado e pelas ações de sua criação, nós os homens.
O texto, traduzido por Eloísa Canton, com versão brasileira de Célia Forte, é rico por transitar entre o humor — as cenas iniciais, em que o paciente se apresenta e a terapeuta revela sua incredulidade, são hilárias — e o drama, com reviravoltas surpreendentes e um desfecho tocante.
A trama inicia com a psicóloga Ana em sua bela casa se preparando para receber o novo paciente que ligou suplicando para ser atendido (mãe de um rapaz autista, vivido por Pedro Carvalho, ela só trata de crianças); em suas falas solitárias, ela questiona Deus pela falta de chuva. Depois de avisar ao filho que precisa trabalhar, Ana leva o rapaz para dentro, quando o paciente entra e começa a apreciar o local. Ana volta e se surpreende com ele já na sala. A surpresa só aumenta com o início da terapia, quando ele confessa estar triste e deprimido há mais de 2 mil anos! Ana só se convence de que está diante do Todo Poderoso quando Ele prova saber de suas mais íntimas e inconfessáveis limitações.
A partir deste momento Ana toma as rédeas da situação e começa a checar as atitudes divinas, questionando passagens do início da criação (fatos retratados no Antigo Testamento) e se o criador não tem sua carga de responsabilidade sobre as maldades e o lado perverso do homem. Este embate entre a terapeuta e Deus, a princípio improvável e inverossímil, torna-se real e possível, pois faz com que o espectador repense sobre a atitude destrutiva do homem diante do planeta e da vida.
Mais do quer propor a personificação de Deus, Anat Gov, com esta peça, promove uma discussão mais profunda, a de que somos a criação divina e, por isso, somos Deus, temos a centelha divina em nossa essência. Assim, quem está em crise: Deus ou o homem? Quem precisa rever seus atos e se reavaliar de maneira radical?
Além do texto excepcional e a direção precisa de Elias Andreato, a montagem de Meu Deus! encanta pelo cenário envolvente de Antonio Ferreira Junior, o elegante figurino de Fause Haten e a bela iluminação de Wagner Freire. Mas o que justifica a montagem desta peça é sem dúvida a atuação dos atores: Dan é a pura emoção no palco, com a verdade do personagem transmitida pelo olhar de extrema expressão; já a ‘divina’ Irene, com uma personagem rica como Ana, tem a chance de mostrar várias nuances de interpretação e conduz a trama para o desfecho comovente. Ambos, ao final, levam a plateia ao êxtase!
Espetáculo merece ser assistido por imensas plateias. Uma das grandes atrações do ano!
Fotos João Caldas
6 Comentários
Raphael Vilela
outubro 11, 2016 @ 07:34
Vou ser bem direto … umas semanas antes do Dan Skulbach e da Irene Ravanche se apresentar com essa linda peça eles foram no Jô Soares, e foi lá que conheci essa peça ,naquela época não deu para assistir pela distance e financeiramente também.Mas me apaixonei de cara pelo oque apresentaram lá no Jô Soares e estou procurando videos ou até mesmo aquela entrevista com o próprio Jô Soares. Sei que não é o seu trabalho ,mas você tem gravado ou sabe aonde posso conseguir pelo menos a entrevista com o Jô Soares?! Desde de já agradeço!
Maurício Mellone
outubro 11, 2016 @ 15:14
Raphael,
vc já tentou pelo globo play?
Talvez vc encontre a entrevista. Tente também pelo You Tube.
Atualmente a peça está em Portugal e ao lado da Irene está o ator
português Ricardo Pereira.
obrigado pela visita
abr
Carlos
abril 24, 2014 @ 15:52
CADA VEZ QUE LEIO ESSE COMENTÁRIO E O Q FALAMOS
FICO MAIS ANSIOSO PARA ASSISTIR ESSE ESPETÁCULO
DESDE Q COMENTASTE COMIGO, INDIQUEI SEU SITE
PARA ANTES DE ASSISTIR LER SEU COMENTARIO
QUANDO VER VOLTAREI A COMENTAR E COM CERTEZA … CONFIRMAR SUAS PALAVRAS
ABRAÇO GDE CARLOS
Maurício Mellone
abril 25, 2014 @ 09:59
Carlos,
que delícia receber sua visita por aqui!
Tenho certeza q vc irá curtir muito o trabalho da Irene e do Dan:
texto reflexivo com pitadas de humor e interpretações comoventes!
bjs e obrigado pela visita (e pelas indicações aos amigos do Favo!)
bruno
abril 1, 2014 @ 15:16
Obrigado Mau por ter me convidado para assistir este espetáculo.
Foi um presente de Deus, seu, da Irene, do Dan, do Elias e toda a equipe!
Maurício Mellone
abril 1, 2014 @ 17:56
Bruno,
realmente um espetáculo marcante! Adorei ter
assistido esta bela peça ao seu lado!
Que venham outras
bjs