De Maurício Mellone em maio 9, 2013
Logo ao entrar na Caixa Cultural São Paulo, o público se depara com uma grande foto do cartunista Glauco Vilas Boas sorrindo sentado na janela de sua casa e na legenda uma frase dele publicada no jornal Folha de S.Paulo em 2004:
“Meu traço não é bom para retratar o futuro. Corro o risco de não falar a língua da moçada.”
Claro que os cartuns, tiras e charges políticas, geralmente publicadas em jornais diários, têm o objetivo de servir como crônicas de um período. No entanto, como no Brasil os políticos pouco mudam suas atitudes e os escândalos de corrupção nunca param de surgir, as certeiras charges políticas de Glauco — destaque da exposição Abobrinhas da Brasilônia — permanecem mais atuais do que nunca, apesar de terem sido produzidas durante os governos dos que assumiram a presidência da República depois da ditadura militar, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula.
Um exemplo disto é uma tirinha em que Glauco dispara:
“— Este deputado tá sem o preço!
— Pegue outro na prateleira!”
A mostra traz desde fotos, desenhos originais ( a lápis), uma cronologia da vida de Glauco, até cartuns, tiras e charges políticas. Depois da tragédia ocorrida em 2010 quando Glauco e seu filho Raoni foram brutalmente assassinados, Abobrinhas da Brasilônia- Charges do cartunista Glauco Vilas Boas é a primeira exposição in memoriam dedicada a ele.
Na primeira sala da exposição do lindo prédio da Caixa Econômica Federal (localizado no centro antigo da cidade), o público tem acesso a fotos de várias fases da vida do cartunista, além de reportagens, desenhos originais produzidos no início da carreira e um vídeo em que o jornalista José Hamilton Ribeiro conta como conheceu e revelou o artista em 1976.
Há em seguida os depoimentos dos curadores da mostra, Beatriz Galvão e Pelicano Vilas Boas, esposa e irmão de Glauco, que falam um pouco da personalidade dele, seus trabalhos e de seu envolvimento com a seita Santo Daime.
O destaque da mostra é para charges políticas: para cada período enfocado, há um quadro em moldura dourada com a charge do presidente da época. Depois, os curadores também selecionaram charges dos prefeitos da cidade de São Paulo e dos governadores do Estado. Há ainda espaço reservado aos personagens de Glauco voltados ao público infantil (Geraldinho, Faquinha, Capitão Bolachinha) e uma bancada com resma de papel em branco e canetas coloridas para os frequentadores deixarem comentários e contribuições.
Bela iniciativa de homenagear Glauco Vilas Boas. Porém, a exposição Abobrinhas da Brasilônia é modesta e pouco representativa da imensa e criativa obra do cartunista. Senti falta de tiras de seus grandes e imortais personagens, como Geraldão, Doy Jorge, Casal Neuras, Dona Marta, Vicente Tarente, Zé do Apocalipse, Cacique Jaraguá, entre outros.
Fotos: divulgação
Roteiro:
Abobrinhas da Brasilônia- Charges do cartunista Glauco Vilas Boas. Coordenação: Vera Nunes de Santana. Curadoria: Beatriz Vennis, Nelma Santos e Pelicano Vilas Boas. Produção: Associação Cultural Cecília.
Serviço:
Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, 111, tel. 11 3321-4400, www.caixa.gov.br/caixacultural. Horários: de terça a domingo das 9h às 20h. Ingressos: gratuitos. Temporada: até 30 de junho.
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