De Maurício Mellone em fevereiro 5, 2020
Tido como um dos mais sensíveis cronistas da cidade de São Paulo, o compositor, cantor e ator Adoniran Barbosa tem sua vida e sua carreira reverenciadas no filme de Pedro Serrano, Adoniran- meu nome é João Rubinato, que estreou na semana do 466º aniversário da capital paulista.
Com roteiro do próprio diretor, a cinebiografia de João Rubinato (nome de batismo de Adoniran Barbosa) traz imagens raras do artista relatando sua trajetória de vida, com entrevistas em diversas fases de sua carreira, além de depoimentos de várias personalidades, como os músicos Eduardo Gudin e Carlinhos Vergueiro, o jornalista Alberto Helena Jr, o sobrinho Sérgio Rubinato, sua filha Maria Helena Rubinato, o artista plástico Elifas Andreato e a cantora Elis Regina, que gravou alguns clássicos de Adoniran.
Tive uma grata surpresa: assisti ao filme no Petra Belas Artes e antes do longa-metragem é exibido Dá licença de contar, curta-metragem de 16 minutos, também de Pedro Serrano, em que os personagens retratados nas canções de Adoniran ganham vida e revivem suas histórias e dramas. Assim Adoniran, interpretado por Paulo Miklos, junto dos amigos Matogrosso e Joca (Gero Camilo e Gustavo Machado) estão num boteco no Bixiga, numa roda de samba; lá recebem o convite do Arnesto para uma festa. No dia combinado, Matogrosso sai da Maloca, um velho casarão onde morava, e vai ao encontro dos amigos para a festa. Como não encontram o anfitrião, resolvem voltar e é aí que presenciam a demolição da “saudosa maloca”. Há ainda o atropelamento de Iracema, também lindamente relatado na canção. Tudo se passa na São Paulo da década de 1950.
O longa-metragem começa com os espectadores imersos no universo do compositor de Trem das Onze, Saudosa Maloca e tantas outras canções marcantes da cultura popular. E é o próprio Adoniran Barbosa que toma o papel de narrador principal do filme, relatando suas origens, as diversas profissões antes de começar sua carreira no rádio, suas influências musicais, os parceiros, além dos casos amorosos, suas tristezas e sua íntima relação com a cidade de São Paulo e seus moradores. O diretor intercala entrevistas de Adoniran, das diversas fases de sua carreira, com os depoimentos dos amigos, familiares e outros artistas.
Mais do que um painel da obra e da carreira de Adoniran Barbosa, o filme mostra o lado humano de João Rubinato, filho de imigrantes italianos que muito cedo precisou trabalhar para sobreviver e lutou para entrar na vida artística e poder viver dos sambas que compunha. Numa de suas entrevistas ele faz questão de ressaltar que era um homem triste; Elifas Andreato e Elis Regina, em emocionantes depoimentos, também reforçam a tristeza de Adoniran, que ele escondia por trás daquele personagem simples e de fala popular (os erros de português são adequados para aquele tipo).
Decorridos mais de 30 anos de sua morte (Adoniran morreu aos 72 anos, em 1982), este filme presta uma merecida homenagem àquele que é reconhecido pela crítica e pelo público como o pai do samba paulista e um dos artistas mais relevantes da cultura brasileira. Em 2018 ele também foi homenageado com a exposição Trem das Onze- uma viagem pelo mundo de Adoniran, um grande painel da vida e da carreira deste multiartista paulista. Infelizmente são poucas salas e sessões exibindo o filme, mas não perca!
Fotos: divulgação
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