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Diálogos de Salomé com São João Batista: olhar onírico pra Oscar Wilde

De em outubro 7, 2016

Peça: Diálogos de Salomé com São João Batista, foto 1

Camila dos Anjos e Gustavo Haddad encarnam no Porão do Teatro Sérgio Cardoso o mítico casal Salomé e João Batista

O diretor Sergio Ferrara com o espetáculo Diálogos de Salomé com São João Batista dá continuidade ao seu projeto de pesquisa sobre a Trilogia dos Malditos. Depois de Jean Genet — Genet O Poeta Ladrão, de Zen Salles, encenada no Espaço Beta do SESC Consolação —, desta vez o foco é para Oscar Wilde e a montagem também é apresentada num local alternativo. Com dramaturgia de Valderez Cardoso Gomes, a trama é levada no Porão do Teatro Sérgio Cardoso e parte da vida e da obra de Wilde para falar de amor e traição, tendo como fonte de inspiração a difícil e tumultuada relação entre Salomé, a princesa da Judeia, e São João Batista, interpretados por Camila dos Anjos e Gustavo Haddad. O diretor promete fechar a trilogia com outro autor maldito, o cineasta e poeta italiano Pier Paolo Pasolini.

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Salomé (Camila) e a mãe Herodíade (Tony Lee)

“Os mistérios do amor são maiores do que os mistérios da morte”

 

Estes versos, ditos no final da peça, sintetizam muito o espetáculo: em tom onírico, a trama mescla a  vida do escritor Oscar Wilde (vivido por Fransérgio Araújo), preso no século XIX por amar o jovem Lord Alfred (Pablo Ginevro), com a sua própria peça sobre a relação de Salomé e João Batista.
Da prisão, Wilde evoca o mítico casal e tudo começa no palácio de Herodes Antipas onde João Batista está preso por ter denunciado corrupção do governo e o casamento incestuoso dos monarcas. Salomé pede para estar com o prisioneiro, que a rejeita de forma categórica. Desprezada e sentindo-se humilhada, Salomé quer vingança e ordena que o amado seja sacrificado, sua cabeça seja-lhe entregue numa bandeja. Paralelamente a este drama, a peça mostra a também trágica vida amorosa de Wilde, preso acusado de sodomia.

 

A encenação tem várias influências da cultura nipônica. Salomé é caracterizada como Tengu, que representa um ser fantástico na mitologia japonesa. Utilizamos ainda muito da estética do Teatro Simbolista, em que as peças não devem ser realistas, mas através da poesia, da música e da dança cria-se um clima onírico. Este tipo de teatro deve levar o espectador a se sentir numa atmosfera de sonho, que irá estimular sua fantasia e habilidades imaginativas”, explica Sergio Ferrara.

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Atuação visceral de Camila e Gustavo

 

Com cenário da artista plástica Maria Bonomi, iluminação de Caetano Vilela e figurinos de Kleber Montanheiro, o espetáculo encanta o espectador por sua envolvente plasticidade e poesia. O desempenho cênico do elenco é outro grande destaque da montagem: a delicadeza da interpretação de Tony Lee, que dá vida à Lua e à Rainha Herodiáde, é contraposta com o vigor e atuação visceral de Gustavo Haddad, Fransérgio Araújo e Camila dos Anjos. Sem dúvida um dos grandes momentos da cena teatral paulistana de 2016. Pena que a temporada é curta, somente até o final de outubro, com sessões de terça a quinta. Não perca!
 

 

 

 

Fotos: Vivian Fernandez e Kim Leekyung


2 Comentários

Luis Alemar

outubro 21, 2016 @ 11:12

Resposta

Tenho a impressão de ter experimentado as profundezas do melhor da Arte do Teatro. Caprichosamente coesa em linguagem, ritmo e mistério, esta Diálogos do diretor Sérgio Ferrara e seu ressonante elenco, entregou-nos com primor proporções exatas do drama sem fronteiras, um potente transformador da reflexão, portanto, da consciência. Obrigado.

Maurício Mellone

outubro 21, 2016 @ 14:33

Resposta

Luis,
também concordo com vc, o espetáculo do Ferrara é
emocionante e de extrema beleza.
Obrigado pela visita, volte sempre
abrs

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