Peça: O Eterno Retorno, foto 1

O Eterno Retorno: peça inédita de Samir Yazbek revela crise de um ator

De em novembro 12, 2018

Peça: O Eterno Retorno, foto 1

Elenco: Patrícia Gasppar, Gustavo Haddad, Luciano Gatti, Helô Cintra Castilho e Carlos Palma

Um grande projeto que acontece no SESC 24 de Maio marca as comemorações de 30 anos de carreira do dramaturgo paulistano Samir Yazbek. Além da montagem de Sérgio Ferrara da inédita O Eterno Retorno, o projeto conta ainda com leituras dramáticas de cinco peças, todas inéditas, um debate sobre dramaturgia contemporânea brasileira e uma oficina de iniciação à dramaturgia. Na montagem, o foco é para um ator, vivido por Luciano Gatti, que está num momento de crise profissional e existencial; ele sente-se dividido entre a vocação artística e a necessidade de sobrevivência. Elenco se completa com Carlos Palma, Patrícia Gasppar, Helô Cintra Castilho e Gustavo Haddad.

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Gatti e Palma: embate profundo entre ator e diretor

 

 

 

O espetáculo tem início com a cena de um monólogo sobre o poeta francês Charles-Pierre Baudelaire que o ator — nenhum personagem tem nome, são identificados pelo grau de afetividade entre eles — pretende montar. Ele é interrompido pelo produtor (Haddad), que vem para contar uma novidade: eles conseguiram patrocínio para a peça que está em cartaz há anos poder excursionar pelo país. O ator festeja com o amigo, mas deseja continuar seu ensaio.

 

 

Porém, novamente é interrompido com a chegada da namorada (Helô), que vai embora depois de uma ríspida discussão. Neste instante o espectador percebe que o ator também é interrompido por outras pessoas, que fazem parte do plano da imaginação e da memória: ele ouve e discute tanto com seu primeiro diretor teatral (Palma) como com a mãe (Patrícia).

 

 

Na verdade o ator está numa encruzilhada entre assumir um papel na TV, viajar pelo país com o velho espetáculo (que ele não acredita mais) ou mergulhar em seu projeto teatral sobre Baudelaire. Os conflitos entre a vocação profissional, a necessidade de sobrevivência e sua vida amorosa permeiam o universo deste ator.

 

“Quem é mais importante, o ser humano ou o artista que habita o ser humano? Essa peça procura lançar mais perguntas do que respostas. É um poema que fala sobre a busca de si mesmo e como os pesados obstáculos se opõem ao florescimento da poesia nas nossas vidas. Precisamos resistir a eles. A resistência necessita dos oásis da vida poética”, argumenta Sérgio Ferrara no programa da peça.

 

A proposta dramática de Yasbek é refletir sobre o mundo artístico, por meio da vida do ator que se encontra em crise. No entanto, as reflexões que a peça provoca ultrapassam o mundo das artes e atinge a todos, principalmente sobre o questionamento da manutenção de um sonho de vida a ser realizado em contraposição à necessidade de se pagar as contas do dia a dia. Particularmente fiquei muito tocado, pois frases dos personagens eu já as pronunciei e ouvi de amigos e parentes.

 

Além da dramaturgia que provoca profundas reflexões, a encenação de Ferrara envolve o espectador, que percebe o que é real e o que é imaginário a partir do espaço do cenário onde a ação é desenvolvida. A iluminação também é fundamental para a condução da trama e o figurino merece destaque: os vestidos da namorada e da mãe salientam ainda mais a importância delas na vida daquele homem. E, sem dúvida, a interpretação visceral de Luciano Gatti evidencia ainda mais o drama vivido por seu personagem. Destaque para os embates do ator com cada um dos outros personagens; a cena em que ele tem de lidar com a interferência de todos ao mesmo tempo é exemplar e síntese da proposta dramaturgia, ou seja, lançar perguntas e deixar com que o espectador possa responder ou refletir sobre elas. A temporada é pequena, não deixe de conferir!

 

Peça: O Eterno Retorno, foto 3

Mãe (Patrícia) questiona o ator sobre sua vocação

Roteiro:
O Eterno Retorno. Texto: Samir Yazbek. Direção e trilha sonora: Sérgio Ferrara. Assistência de direção: Angélica Prieto. Elenco: Carlos Palma, Gustavo Haddad, Helô Cintra Castilho, Luciano Gatti e Patricia Gasppar. Figurinos: Kleber Montanheiro. Cenário: Telumi Hellen. Iluminação: Aline Santini. Fotografia: Lenise Pinheiro. Direção de produção: Elza Costa/Brancalyone Produções. Coordenação geral: Edinho Rodrigues.  Realização: Sesc São Paulo
Serviço:
SESC 24 de Maio (lugares), Rua 24 de Maio, 109, tel.11 3350-6300. Horários: sexta e sábado às 21h, domingo às 18h (sessões duplas- sextas, dias 16, 23 e 30/11, às 18h e 21h). Ingressos: R$ 40, R$ 20 e R$ 12. Duração: 70 minutos. Classificação: 14 anos. Temporada: até 2 de dezembro. Leituras Dramáticas: sábados, às 14h até 1º/12. Debate: A dramaturgia Contemporânea Brasileira: 1º /12, às 16h. Oficina: Iniciação à Dramaturgia: dias 16, 23 e 30/11, das 14h às 17h.
(três atividades gratuitas)

 


2 Comentários

Ed

novembro 13, 2018 @ 11:27

Resposta

Excelente texto sobre “O Eterno Retorno”. Lendo-o, senti-me motivado a rever o espetáculo e refletir mais sobre o tema.

Maurício Mellone

novembro 14, 2018 @ 11:44

Resposta

Ed,
q maravilha q a resenha te ajudou a refletir e até
a desejar rever o espetáculo.
Muito obrigado pela companhia na estreia e por seu
olhar sempre atencioso e sensível ao meu trabalho.
Bjs

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