De Maurício Mellone em março 14, 2012
Ao entrar no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB/SP) o público já é surpreendido: parte das pessoas é encaminhada para o palco e o restante é conduzido ao balcão superior. Tive o prazer de sentar-me na pequena arquibancada montada no palco, como se fizesse parte do cenário do espetáculo. Tudo isto tem uma razão de ser: o público por quase dividir a cena com os atores, torna-se cúmplice do drama vivido por Susan, a personagem central de Isso É o que Ela Pensa, peça escrita em 1985 pelo dramaturgo britântico Alan Ayckbourn e pela primeira vez montada no país.
Após uma pequena queda no jardim de sua casa, Susan — brilhantemente interpretada por Denise Weinberg — começa a conviver entre a fantasia, em que ela cria uma família ideal e harmoniosa, e a realidade, em que os familiares são distantes, frios e egoístas.
Num primeiro momento, após os primeiros socorros, Susan domina a situação e sabe muito bem se conduzir entre a família de seus sonhos (todos com figurino branco) e a real, formada pelo marido Gerald (Mário César Camargo), um pastor nada sensual que se preocupa unicamente com a redação de seu livro sobre a história da paróquia, a cunhada Muriel (Clara Carvalho), que só pensa em manter contato com o marido falecido e o filho Rick (Eduardo Muniz), que entrou para uma seita e se nega a falar com os pais, além do médico trapalhão Bill (Mário Borges), único com quem Susan confessa ter alucinações. Mas com o passar do tempo, a mãe de meia-idade daquela família de classe média perde o controle e os familiares da sua imaginação começam a ter vida própria. Tanto a filha Lucy (Clarissa Rockenbach), como o marido Andy (Francisco Brêtas) e o irmão Tony (José Roberto Jardim) interferem na vida de Susan e ela entra em colapso.
Mais do que sequela pela queda, Susan vive uma grande revolução interior, tendo de rever seus princípios de vida. Para Denise Weinberg, a peça incita a um questionamento sobre a existência humana:
“A religiosidade hipócrita, a falta de afeto e de amor são capazes de provocar graves transtornos psíquicos, paralisando o indivíduo, que é obrigado a se retirar do palco dessa vida supostamente real. E eu me pergunto: o que é real? O que é loucura? O que vemos é realmente o que vemos? Perguntas que me atormentaram e me atormentam desde sempre”, diz a atriz.
Por ter assistido a peça do palco, fiquei impressionado com a atuação e entrega de Denise ao drama da personagem; o público (quase no corpo a corpo com a atriz) tem a chance de constatar a transformação física e psíquica por que Susan é obrigada a passar. Mais um momento ímpar na carreira desta atriz premiadíssima. Outro destaque de Isso É o que Ela Pensa é para a direção e concepção cência de Alexandre Tenório, que dirigiu recentemente A Serpente no Jardim, também de Alan Ayckbourn.
Fotos: Ligia Jardim
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