De Maurício Mellone em fevereiro 6, 2014
Logo após finalizar as gravações da telenovela Amor à Vida, Nathalia Timberg não descansa e já está no palco. Desta vez para uma proposta ousada e instigante: encarar pela primeira vez um texto de Samuel Beckett, numa parceria com a companhia experimental Club Noir, liderada pelo diretor Roberto Alvim.
Tríptico Samuel Beckett, que estreou no último final de semana no CCBB-SP, reúne três novelas do dramaturgo irlandês escritas no final de sua vida (ele faleceu em 1989) e inéditas no Brasil: ‘Para o Pior Avante’, ‘Companhia’ e ‘Mal Visto Mal Dito’. Na montagem, uma mulher em três fases da vida — infância vivida por Paula Spinelli, maturidade na pele de Juliana Galdino e velhice, interpretada por Nathalia — relata toda uma gama de sentimentos, revelando sua perplexidade diante da vida, com medos, anseios, dores e incertezas. Com pouca ou nenhuma luz, as três atrizes permanecem no palco e não dialogam, o que induz ainda mais a reflexão do espectador:
“Esta peça não acontece no palco, mas sim no espaço mental/sensível de cada um dos presentes na plateia”, argumenta o diretor Roberto Alvim.
Ao entrar na sala de espetáculo, o espectador menos atento pode até não perceber, mas as três atrizes já estão no palco, imóveis e quase na penumbra; acionado o terceiro sinal, tudo se apaga e uma pequena luz recai sobre Juliana Galdino, que dispara o brado do autor para se caminhar, ir adiante (da novela Para o Pior Avante), mesmo sem saber como fazer esta caminhada. Em seguida, com o texto Companhia, Paula Spinelli transmite a incompreensão de uma criança diante da morte e por último Nathalia, com Mal Visto Mal Dito, revela como aquela mulher implora pelo fim da vida.
“A peça acontece no espaço mental dessa mulher, em que as três idades coexistem. As cenas são norteadas pela voz humana e, a partir disso, o público constrói as imagens e sensações”, diz o diretor, que assina também a iluminação e cenografia do espetáculo.
Os três textos reunidos na montagem sintetizam a visão de mundo de Samuel Beckett e, de acordo com o diretor, representam seu testamento artístico.
“É no mar do inconsciente que o escritor navega, é por este mar que Beckett nos conduz e é nestas águas que ele nos afoga. Navegamos hoje por este descaminho, rota sem norte, que permanece como o grande ultimato a toda ideia de sentido. Não se trata aqui do que nós faremos com Beckett, mas sim do que Beckett fará conosco, homens do século XXI”, arremata Roberto Alvim.
A cada trabalho na Cia Club Noir Roberto Alvim vem intensificando sua proposta experimental e minimalista de dramaturgia. Para quem já o conhece de outras montagens — 45 Minutos e A Construção estreladas por Caco Ciocler e Invasor(es) com Joca Andreazza e Paula Cohen — sabe de sua proposta cênica. Para quem desconhece o trabalho do diretor, vale a pena conferir Tríptico Samuel Beckett e constatar que a iluminação difusa e os poucos elementos cênicos (mínimo cenário e trilha sonora incidental) provoca o espectador e o induz a refletir profundamente sobre a trama. E ser agraciado com o talento e o vigor em cena de Nathalia Timberg é ainda mais gratificante.
O espetáculo permanece em cartaz até 14 de abril, não perca!
Fotos: Daniel Seabra
8 Comentários
Emilson Garcia
fevereiro 25, 2014 @ 03:59
(continuando: apertei um tecla errada sem querer e não tive a oportunidade de revisar os erros de português que cometi: “nestas comemoraÇÕES” e além disto não tinha terminado o texto) Olá, Roberto Alvim, Nathalia Timberg, Paula Spinelli e Juliana Galdino. A montagem de Tríptico Samuel Beckett é extremamente oportuna neste momento histórico. Estamos no triênio(2014,2015,2016) da comemoração dos aniversários de nascimento e morte daquele que foi o maior de todos os dramaturgos: William Shakespeare. A partir da Royal Shakespeare Company, em Londres, o mundo estará envolvido nestas comemorações. Não há rival para Shakespeare: é o maior dramaturgo secular de todos os tempos. E Beckett ? Bem, se há, no século XX, alguém que está o mais perto possivel da genialidade hamletiana, sem dúvida alguma, é Beckett; sem bem que Luigi Pirandello está, talvez, mais perto ainda. Mas, proponho que é, portanto, fundamental estudar Beckett para melhor entender Shakespeare. Eu vejo Beckett inserido em Shakespeare e eu vejo Shakespeare implícito em Beckett. Shakespeare, o 11 de setembro do World Trade Center e Beckett prenunciam alguma coisa: FIM DE JOGO ou FIM DE PARTIDA. Mas, muito embora, Shakespeare seja o único a deixar tais questões abertas a ilimitadas possibilidades, são inegáveis as contribuições de Beckett às nossas reflexões quanto ao possivel TÉRMINO DO JOGO DA VIDA. Desejo toda a sorte do mundo à esta montagem, mesmo porque trabalho com CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA ADULTOS, com Shakespeare, inclusive, e realizo o espetáculo “HAMLET em CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA ADULTOS”(veja a apresentação das partes 1,2,e 3 que estão gravadas no YOUTUBE: http://www.youtube.com/watch?v=K8RnaOYVsCw , http://www.youtube.com/watch?v=52rMffbEFDo e http://www.youtube.com/watch?v=-b5XRXmqJMA ). E, além disto, minha filha que cursa teatro na Universidade Federal UNIRIO, no bairro da Urca, RJ, está se esforçando, neste momento, por realizar um estágio na Royal Shakespeare Company, em Londres. Portanto, estamos todos em casa; e, finalmente, um FORTE ABRAÇO à toda a equipe da Companhia Experimental Club Noir.
Maurício Mellone
fevereiro 25, 2014 @ 14:08
Emilson,
recebi os dois comentários.
Obrigado
abr
Emilson Garcia
fevereiro 25, 2014 @ 03:04
Olá, Roberto Alvim, Nathalia Timberg, Paula Spinelli e Juliana Galdino. A montagem de Tríptico Samuel Beckett é extremamente oportuna neste momento histórico. Estamos no triênio(2014,2015,2016) de comemoração dos aniversários de nascimento e morte daquele que foi o maior de todos os dramaturgos: William Shakespeare. A partir da Royal Shakespeare Company, em Londres, o mundo estará envolvido nestas comemoração. Não há rival para Shakespeare: é o maior dramaturgo secular de todos os tempos. E Beckett ? Bem, se há, no século XX, alguém que está o mais perto possivel da genialidade hamletiana, sem dúvida alguma, é Beckett. Proponho que é, portanto, fundamental estudar Beckett para melhor entender Shakespeare. E
Maurício Mellone
fevereiro 25, 2014 @ 14:07
Emilson:
Muito obrigado por sua contribuição, com suas considerações
sobre os grandes autores da dramaturgia mundial.
Volte sempre que quiser, terei o maior prazer em contar com sua
participação
abr
Imad
fevereiro 8, 2014 @ 13:52
Vou assistir a esse espetáculo amanhã. Ansioso para ver a Nathália Timberg no teatro. E sua resenha me deixa mais ansioso e animado! Um grande abraço, meu amigo!
Maurício Mellone
fevereiro 10, 2014 @ 14:14
Imad,
Tomara q vc tenha curtido ‘Tríptico Samuel Backett’.
Um texto q reúne três novelas do dramaturgo irlandês
que põe a nu a alma humana. Vou esperar sua opinião sobre
a peça!
bjs
Jorge
fevereiro 8, 2014 @ 00:01
Maurício,
você me deixou com muita vontade de ver o espetáculo. Foi muito bacana termos visto juntos a peça do Pâmio e cia!
Baci
Maurício Mellone
fevereiro 10, 2014 @ 14:16
Jorge:
Não deixe de assistir: além do texto forte e reflexivo de Beckett, ter a chance de assistir
a performance de Nathalia Timberg é sensacional. Não perca!
Também adorei ter assistido a estreia de ‘Ou Você Poderia me Beijar’ com vc. Assim q publicar
resenha, te aviso
bjs