De em abril 22, 2011
Em plena Semana Santa, por mais irônico que possa parecer, debrucei-me sobre o evangelho segundo a carne, segunda obra de Guilherme Junqueira lançado pela Giostri Editora. Já em Suicida Rock’n Roll, o jovem provava que pode mesmo ser chamado de multi-mídia, já que é ator, diretor de cinema e dramaturgo: seu livro de estreia faz um retrato, um tanto ácido e mordaz, dos personagens que dão vida à noite paulistana.
Já na segunda obra, o rapaz, de pouco mais de vinte anos, reaparece mais maduro, sua linguagem está solta, num ritmo alucinante que faz com que o leitor não queira parar de ler.
O título um tanto polêmico vai se tornando coerente à medida que a história de amor entre os anjos Samyaza e Lyrael toma vulto. Já na introdução há a referência à cobiça dos anjos pela sexualidade dos homens e o leitor é convidado a participar da “bad trip” dos personagens.
“Tudo tem início depois da chuva, depois de um choro, depois de um ácido. Samyaza, na presente encarnação é Matheus, um adolescente de 17 anos que saiu de casa decidido a dar-se um fim trágico.”
Ambientado no verão de São Paulo (cinza e inundada de água e sujeira), o enredo é dividido em três partes (O Acordo, A Catadora de Papelão e Obsessão) e gira em torno da luta do anjo Lyrael para salvar a alma de seu grande amor Samyaza/Matheus, que vive deprimido após a morte do namorado Lucas.
Mais do que o romance e o tresloucado triângulo amoroso da trama, Guilherme abre discussão e questionamento sobre princípios e valores intrínsecos do Homem, como vida e morte, amor e desamor, fé e ateísmo. Ao questionar a existência de Deus — o deus propalado pelas instituições religiosas, como um ser superior que pune e castiga os fiéis—, o autor apresenta uma visão mais humanizada e contemporânea do divino. Ou seja, a ideia de que a divindade “nada mais é que a consciência divinizada do ser humano, o ser cístico de cada um, o Deus que habita nosso corpo”. E ao final, por meio do anjo Lyrael e Lord Balthazar (o anjo mensageiro da morte), há a argumentação de que todos, homens e anjos, caminham para a evolução, para a divindade.
Se pelo título o leitor poderia pensar que o livro é um escárnio e sátira ao sentimento religioso, ao chegar à última linha fica-se com a nítida impressão de que a obra é uma reflexão profunda sobre o sentimento mais sublime do ser humano, o amor à vida. E sexo é vida, é amor e, portanto, divino.
2 Comentários
Rodrigo Laufen
fevereiro 27, 2012 @ 00:18
Parece ser ótimo vou procurar ler, acho que todos nós temos esta fase fé-ateísmo, e este livro trata uma idéia que eu sempre defendi, de que temos livre arbitrio e somos nosso próprio Deus….
Maurício Mellone
fevereiro 27, 2012 @ 14:21
Rodrigo:
O autor deste livro, Guilherme Junqueira, é um rapaz criativo e atua em diversas frentes
(é ator, diretor, artista plástico, além de escritor). O “Evangelho…” é o segundo romance
dele, o primeiro é “Suicida Rock’in Rool” que eu também fiz uma resenha.
abr