De Maurício Mellone em dezembro 11, 2012
Adorei poder conhecer mais uma faceta do múltiplo artista que é Hugo Possolo. Seus artigos publicados na imprensa e, principalmente, suas obras teatrais (em que não só atua, como escreve, dirige e participa de todas as etapas de produção) fazem sucesso há muito. No entanto, sua veia poética é pouco conhecida, tanto que o próprio autor confessa:
“O diálogo da poesia escrita conversa com um interlocutor, muitas vezes, distante. Dificilmente o autor conhecerá seu leitor e suas reações. Daí que resisti muito tempo em publicar meus poemas. Eles são um registro, um diário de metáforas que se cansaram de ficar guardadas”, diz Hugo Possolo.
E que bom que estas metáforas chegaram ao público. Numa parceria entre a Giostri Editora e o Espaço Parlapatões, Possolo acaba de lançar seu primeiro livro de poesias, Excêntrico, que traz na ‘orelha’ as palavras de entusiasmo do escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva: “Agora na poesia, Hugo estende um braço para o leitor e nos faz parar para pensar na riqueza da alma humana, nas dores e humores”.
O prefácio é assinado pelo poeta Marcelino Freire que sentencia:
“Aqui tem. De tudo um tanto. Poesia para o ovo. Poesia para o povo. Para Deus e o Diabo. Para o macho e para o viado. Várias caras tem Hugo Possolo. De quem sou fã. Faz tempo. Do seu talento. Múltiplo.”
Quis utilizar as palavras do Marcelo e do Marcelino exatamente porque é muito difícil resenhar um livro de poesia. Elas falam por si mesmas! E também porque Hugo, mesmo em sua primeira edição de poemas, já se mostra um poeta mais do que maduro. Mais do que dominar a métrica, ele se mostra por inteiro, como se estivesse no palco, seu habitat natural. A veia cômica do palhaço fica explícita no poema Atitudes:
“Se a gente chega/
no meio da rua/
e bota um ovo,/é chamado de louco,/
não de galinha.”
O editor Alex Giostri explica que a familiaridade de Possolo com a poesia vem de longa data, mesmo que desconhecida do grande público: “Foi a poesia que o aproximou do teatro, ainda na juventude, quando participou de movimentos poéticos e de publicações alternativas”. Daí a profundidade de sua verve no poema que dá nome ao livro e que ele dedica à filha:
“Confie nos teus filhos, sempre. Confie./
Não confie em mim./
E não te vendas./
Negócio é coisa de quem confia. Não confie, não negocie./
Não confie em nada que esteja no centro, centrado, definido ou focado./Desconfie dos que não confiam em nada./
E, principalmente, não confie em si./
Desconfie tanto de você mesma,/
mas tanto, que possa ter certeza/
de estar sendo honesta consigo./E isto já basta.”
E a larga experiência como palhaço fica também refletida nos poemas. Além, do poema Excêntrico (que é uma das funções do arquétipo do palhaço), ele escreve ainda sobre o Trapézio e o Atirador de Facas:
“A menina fecha os olhos de seu coração certeiro,/
E o homem atira a faca./
Na falta de gesto,/A sombra,/
o barulho seco.”
Poderia ficar aqui citando diversos poemas. Mas o melhor mesmo é aguçar a sua curiosidade para ir mais fundo no universo poético do palhaço.
Hugo, não se reprima mais: a reação do leitor aos teus poemas é a mesma do espectador de teatro, só aplauso e mais aplausos! Que venham outros poéticos livros!
“O poema é o/
sentimento/
tiro,/
a dor/
rajada,/
o corte branco,/
a luz, a tinta./O poema é o papel”
Fotos: divulgação
2 Comentários
Nanete Neves
dezembro 14, 2012 @ 16:47
Depois de ler esse livro eu concordo tanto contigo, Maurício, que fico perplexa pelo fato do Hugo/poeta ser tão pouco conhecido. Para exemplificar, destaco dois trechos do poema “Meninos” (que ele dedicou a Branco Mello):
“Os meninos quando choram, disfarçam/ e seus olhos caem no chão./
[…]
Olhos que não estão presos a nada,/ bolas soltas voando/ e espalhando água e sal no chão.]
Fiquei feliz em ver que ele teve no teu blogue o espaço merecido.
beijão
Maurício Mellone
dezembro 14, 2012 @ 17:13
Nanete:
O Possolo é muito conhecido como palhaço e articulador do grupo Parlapatões.
Infelizmente o lado poético deste artista múltiplo é desconhecido do grande público.
Agradeço muito seus elogios, tentei suprir esta lacuna e mostrar a veia poética deste
incrível poeta-palhaço!
bjs e obrigadíssimo pela valiosa e sensível participação!