De Maurício Mellone em novembro 9, 2011
Se fosse necessário definir, com uma única palavra, O Palhaço, longa de Selton Mello que acaba de estrear, diria que o filme é singelo. Com sensibilidade e um olhar terno, Selton debruça-se sobre o mundo do circo, mais especificamente na pequena companhia circense — Circo Esperança —, que percorre os mais longínquos rincões desse nosso país levando sua arte e sua alegria. O ator divide a cena com o veterano Paulo José, numa interpretação encantadora: são pai e filho (Valdemar e Benjamim), os palhaços Puro Sangue e Pangaré, donos e líderes da trupe circense.
Em tempos de tecnologia avançada e com os sofisticados recursos do mundo das comunicações, os roteiristas (Marcelo Vindicatto e Selton Mello) optaram por revelar o cotidiano simples, pobre e difícil do circo. Não o mundo das grandes companhias, como Cirque du Soleil, mas a pequena companhia do interior do Brasil, que vive com dificuldades financeiras e burocráticas (conseguir o alvará em cada cidade é tarefa árdua); mas sobrevive graças ao sentimento de união da trupe de artistas e o amor deles pela arte circense.
Assim como as platéias das cidadezinhas por onde o Circo Esperança visita, o público das salas de exibição logo se encanta com os números e atrações da companhia. No entanto, quem mais diverte as pessoas, o palhaço, vive uma crise existencial. Pangaré diz que faz os outros rirem, mas não tem ninguém que o faça rir. Literalmente sem identidade (o jovem palhaço não tem documentos), Benjamim resolve deixar a trupe e ir atrás de seus sonhos. Decide procurar por uma garota por quem ficou interessado; nessa longa caminhada o rapaz colhe desilusão, toma um choque de realidade e revê seus conceitos. O ditado popular (“o gato bebe leite, o rato come queijo e cada um faz o que sabe”) foi o mote usado para a tomada de consciência do personagem. A cena final no picadeiro, com a cumplicidade de pai e filho em cena, é emocionante. Uma verdadeira lição de vida.
Tanto na trajetória do circo como na de Benjamim, diversos tipos invadem a trama e enriquecem a história. É o caso do delegado mal-humorado (brilhante participação de Moacir Franco, prêmio de ator coadjuvante no Festival de Paulínia), do sertanejo Juca Bigode (Jackson Antunes), da prostituta Tonha (Fabiana Karla), do inusitado funcionário público (Ferrugem) e dos hilários mecânicos Beto e Deto, vividos com maestria por Tonico Pereira.
Com domínio da linguagem cinematográfica (a história é contada muito mais pelas ações e imagens do que pela palavra e diálogos), Selton realizou um filme simples e humano, daí merecer os prêmios (além de Moacir, em Paulínia O Palhaço saiu com os troféus de direção, roteiro e figurino) e o reconhecimento da crítica e do público. Nas duas primeiras semanas de exibição o filme já lidera as bilheterias dos filmes brasileiros em 2011. Não perca, emoção garantida!
Fotos: divulgação
6 Comentários
Luiz Carlos Líbano
dezembro 11, 2011 @ 02:35
Dentre várias coisas no filme, creio que uma foi marcante, inclusive comentada por uma amiga minha: ‘faça o que você sabe fazer”, algo assim. Creio que é assim na vida: fazemos melhor aquilo que fazemos com o coração, fortalecido pelo talento (ou talentos) o qual vai se descobrindo aos trancos e barrancos.
Maurício Mellone
dezembro 12, 2011 @ 10:48
Luiz:
Num dos meus livros de cabeceira, um ensimanento enriquecedor é
sobre Entrega (estar presente em tudo o q faz)
bjs e obrigado pela frequência constante e seus comentários!
Luiz Carlos Líbano
dezembro 6, 2011 @ 16:25
Gostei da singeleza do filme, o qual vi ontem.
Obrigado pela dica. Belos trabalhos: o seu e o dos envolvidos no filme do Selton Mello.
Maurício Mellone
dezembro 7, 2011 @ 15:56
Luiz:
O Palhaço é comovente mesmo! Que ótimo vc gostou da
resenha e foi conferir!
bjs
Luiz Carlos Líbano
novembro 10, 2011 @ 07:13
Oi, Maurício, já estava a fim de ver o filme, devido à minha adoração por circo, já que meu pai me levava (junto com minha mãe) pra vermos as estripulias dos palhaços e o tão esperado drama. Creio que aí comecei a ser envenenado pelo vírus do teatro, do teatro-circo. Vi uma entrevista do Moacyr Franco no programa da Marília Gabriela; ela elogiou muito o trabalho dele; além disso, a resenha do blog me incita a colocar tal programa na minha longa lista de programas culturais.
Maurício Mellone
novembro 10, 2011 @ 14:11
Luiz:
Coloque o filme O Palhaço na sua lista e não deixe de assistir.
Filme singelo, como defini na resenha.
bjs e obrigado pela frequência constante aqui!