De Maurício Mellone em dezembro 19, 2018
Depois de temporada relâmpago neste mês — foram só 3 apresentações no SESC Pompeia —, reestreia no Teatro Oficina a peça de Chico Buarque, Roda Viva, que está completando 50 anos.
Espetáculo marcante e que causou muitos embates com a ditadura militar — estreou no início de 1968 no Rio de Janeiro, onde foi proibida; depois cumpriu temporada no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, quando sofreu ataque de grupos de direita, sendo proibida também em Porto Alegre/RS — agora ganha nova versão pelas mãos do diretor Zé Celso Martinez Corrêa e com temporada até fevereiro na sede da companhia.
Com um elenco formado por 25 atores e 8 músicos, a trama é sobre a ascensão e queda de um cantor e compositor popular fabricado pela mídia. Benedito Silva, depois Ben Silver, vivido por Roderick Himeros, recebe influência do Anjo da Guarda (Guilherme Calzavara) e do Capeta (Joana Medeiros), que modificam seu estilo musical de acordo com os índices de popularidade.
Assim como fez no ano passado com o cinquentenário da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, Zé Celso fez questão de reencenar Roda Viva, graças à importância que a montagem trouxe ao teatro brasileiro:
“Quer dizer, Roda Viva foi e é uma revolução. Todo o meu trabalho a partir de então se transformou radicalmente. Vamos reestrear no Teatro Oficina no dia 23, em homenagem ao meu irmão Luís Antonio Martinez Corrêa assassinado com 107 facadas, há 31 anos. Faremos também espetáculo no dia de Natal e no Réveillon e permanecemos em cartaz até 10 de fevereiro, duas semanas antes do Carnaval”, informa Zé Celso.
“a gente quer ter voz ativa/
no nosso destino mandar/
e eis que chega a roda-viva/
e carrega o destino pra lá.”
Se na versão original os versos pungentes da canção de Chico Buarque que dá título à peça ajudavam a contar a história daquele artista pré-fabricado, na montagem atual eles são entoados pelo numeroso elenco e acompanhados pela plateia, em uníssono. No entanto, o compositor liberou outro sucesso para a nova versão da peça: a contundente ‘As caravanas’:
“tem que bater, tem que matar,/
engrossa a gritaria/
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia.”
No bem elaborado programa da peça, as editoras Brenda Amaral, Cafira Zoé e Camila Mota justificam a reencenação da peça: “Neste momento de censura, perseguição e criminalização de artistas, de linguagens e de liberdades, o Teatro Oficina monta Roda Viva como uma prática da paixão e das potências transumanas, na perspectiva cosmopolítica no aqui agora de 2018. Labaredas em tempos de insurreição”.
Registro histórico de um espetáculo marcante do teatro brasileiro. Vale a pena conferir; mas vá preparado, são mais de três horas e meia de duração! Fique com o clipe de As caravanas, com Chico Buarque:
Roteiro:
Roda Viva. Texto: Chico Buarque. Direção: Zé Celso Martinez Correa. Conselheira poeta: Catherine Hirsh. Diretor musical: Felipe Botelho. Elenco: Camila Mota, Roderick Himeros, Joana Medeiros, Guilherme Calzavara, Marcelo Drummond, Sylvia Prado, Isabela Mariotto, Clarisse Johansson, Kael Studart, Nash Laila, Lucas Andrade, Tulio Starling, Tony Reis, Danielle Rosa, Fernanda Taddei, Carol Castanho, Cyro Morais, Kelly Campello, Cafira Zoé, Marcelo Dalourzi, Marcella Maia, Mayara Baptista, Nolram Rocha, Viviane Clara, Zé Ed. Músicos: Amanda Ferraresi, André Santana, Carina Iglecias, Felipe Botelho, Giuliano Ferrari, Ito Alves e Moita Matos. Cenário: Carila Matzenbacher e Marília Gallmeister. Figurino: Sonia Ushiyama. Iluminação: Guilherme Bonfanti. Coreografia: Ibrahima Sarr. Fotografias: Jennifer Glass. Produtor executivo: Anderson Puchetti.
Serviço:
Teatro Oficina, Rua Jaceguai, 520, tel. 11 3106-2818. Horários: sexta e sábado às 20h e domingo às 19h. Ingressos: de R$15 a R$60. Duração: 3h30. Classificação: 18 anos. Temporada: até 10 de fevereiro de 2019.
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