De Maurício Mellone em dezembro 28, 2018
FELIZ ANO NOVO
Este é o típico desejo-chavão, mas impossível fugir dele, principalmente neste final de 2018, com os ânimos tão abatidos depois de um ano em que o país esteve mergulhado numa crise econômica monstruosa — mesmo com índices de melhora, o número de desempregados assusta — e ainda está dividido depois das eleições presidenciais. No entanto, é imprescindível que renovemos as esperanças por dias melhores: seja A ou B quem esteja no comando da Nação, todos nós brasileiros temos o direito a uma vida decente, em que cada vez mais as diferenças sociais diminuam e o bem-estar esteja ao alcance de cada cidadão.
Se o mundo político, social e econômico esteve em crise em 2018 no Brasil, as artes souberam responder à altura e apresentaram produções de altíssimo nível, que contribuíram para a reflexão da nossa realidade.
O Favo do Mellone, que há oito anos traz semanalmente resenhas sobre teatro, cinema, artes plásticas, literatura e música, neste ano não fugiu à regra e com todas as dificuldades ofereceu aos seus seguidores uma média de três resenhas por semana, num total de mais de 115 posts, além dos vídeos com entrevistas e dicas culturais publicados no canal do You Tube e aqui na TV MELLONE. Acompanhe a seguir uma breve seleção da rica produção cultural destacada no Favo.
Com mais de 50 peças analisadas durante o ano, o trabalho de seleção para esta retrospectiva é dificílimo. Entretanto o grande destaque dos palcos do primeiro semestre foi a encenação de Bia Lessa PI- Panorâmica Insana, que questiona o caos em que vivemos hoje, com números assustadores de mortes violentas, subnutrição, abandono e o flagelo dos refugiados. Outros destaques do primeiro semestre ficam para Os guardas do Taj, com Reynaldo Gianecchini e Ricarto Tozzi, o monólogo de Marcelo Varzea Silêncio. doc, A profissão da Sra Warren de Bernard Shaw, direção de Marco Antônio Pâmio, o solo de Clovys Torres DesolaDor sobre Antonin Artaud e a produção dirigida por Jô Soares A Noite de 16 de janeiro, com 15 atores em cena.
No cinema o longa-metragem de Affonso Uchoa e João Dumans, Arábia, chamou a atenção, assim como o filme de Carolina Jabor, Aos teus olhos, estrelado por Daniel de Oliveira, além da estreia na direção Carolina Leone com Pela Janela, estrelado por Magali Biff.
Na literatura, destaco três romances: A glória e seu cortejo de horrores de Fernanda Torres, a coletânea de contos de Geovanni Martins O Sol na Cabeça e Átimo, primeiro romance do dramaturgo Kiko Rieser.
Com uma infinidade de exposições que aconteceram pela cidade (incluindo a Bienal Internacional de São Paulo), destaco duas apresentadas no CCBB-SP: a retrospectiva de Jean-Michel Basquiat e Ex África, primeira mostra no Brasil sobre a arte contemporânea de oito países africanos.
Foram muitas as estreias de filmes brasileiros no segundo semestre. Gostaria de destacar dois vencedores do Festival de Gramado: Benzinho, de Gustavo Pizzi, que conquistou 4 Kikitos, inclusive os de atriz para Karine Teles e atriz coadjuvante para Adriana Esteves e Ferrugem, de Aly Muritiba, escolhido o melhor filme do festival. Outras produções também merecem ser ressaltadas: O Paciente, de Sergio Rezende, sobre os últimos dias de vida de Tancredo Neves, vivido por Othon Bastos, 10 Segundos para Vencer, de José Alvarenga sobre o pugilista Eder Jofre e a estreia como diretor de Murilo Benício em O beijo no asfalto, sobre a peça de Nelson Rodrigues.
Considerado o maior evento de cultura da diversidade da América Latina, o Festival Mix Brasil — que contou com 110 filmes, entre brasileiros e estrangeiros, além de peças, shows, palestras e debates — também foi destaque no Favo.
Este ano também criei nova seção, CORES no FAVO, um espaço para difundir o trabalho de artistas plásticos contemporâneos. Enio Longo foi o primeiro a ter seu perfil retratado, com destaque de todas as fases de sua carreira.
A seção ainda trouxe um especial sobre Nanoarte e uma resenha sobre a primeira exposição no país do artista plástico Adelio Sarro.
Nos palcos as produções também proliferaram; como fica difícil ressaltar algumas peças diante de tantas montagens! Porém, destaco dois trabalhos do dramaturgo Sérgio Roveri: À Espera, espetáculo questionador sobre o caos em que vivemos e Concerto para João, que faz um recorte sobre a trajetória do maestro João Carlos Martins, vivido por Rodrigo Pandolfo (que também brilhou no espetáculo de Bia Lessa, PI). Os cariocas da Cia dos Atores trouxeram à cidade Insetos, texto de Jô Bilac, uma metáfora da vida em sociedade dos dias atuais por meio da convivência entre os insetos.
Outra grande emoção foi conferir a atuação de Sergio Mamberti, ao lado de Rodrigo Lombardi, no clássico Um panorama visto da ponte, de Arthur Miller, direção de Zé Henrique de Paula.
Destaque ainda para a comemoração de 30 anos de carreira do dramaturgo Samir Yazbek com a apresentação da inédita O eterno retorno, a montagem de Gabriel Villela para Estado de Sítio, a visão alegórica de Albert Camus contra o totalitarismo e a performance da trupe do Teatro Oficina para o musical de Chico Buarque, Roda Viva, que comemorou 50 anos em 2018.
Apesar das dificuldades que teremos de enfrentar no próximo ano, espero que em 2019 nossas produções culturais sejam tão numerosas e tão enriquecedoras como as que tivemos neste ano. Não se vive sem arte e educação. Estejamos juntos e na batalha por um Brasil cada vez mais igualitário, seguro e promissor.
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