“A crise existencial, a falta de força e de identidade e o sentimento de perda me motivaram a criar esse solo, ‘…me leva’”
É dessa maneira direta e emocionada que Lourenço Homem explica como foi o doloroso processo criativo de sua nova coreografia, que está em cartaz no Sesc Pinheiros, sala Solos Urbanos, todas as quintas de junho.
E eu, que não o tinha visto no palco ainda já que viveu por 14 anos em Berlim/Alemanha, fiquei muito orgulhoso de ser chamado para divulgar esse trabalho que marca seu retorno ao Brasil e a sua terra natal.
A dor da criação tem um motivo muito especial: logo que chegou a Sampa, seu pai veio a falecer. Sentindo-se sem chão, sem referências, Lourenço resolveu colocar em cena todo esse emaranhado de sentimentos. Voltar, mesmo tendo construído uma carreira de prestígio na Alemanha — trabalhou ao lado de profissionais de renome da dança, como Ismael Ivo, Marcia Haydee, Mara Borba e do diretor Yoshi Oida — não foi nada fácil, tanto que ele se questiona se é “mais daqui ou mais de lá”, ou se é dos dois países.
Essa dúvida é do criador. O público, ao entrar em contato com o bailarino em cena, só tem certezas: está diante de um profissional requintado e sensível. No centro do palco, somente com uma cadeira, Lourenço passa um vigor e uma expressividade invejáveis.
Confesso que para ser o assessor de imprensa do espetáculo, precisei exercitar um pouco do distanciamento profissional, já que antes da relação entre bailarino e jornalista, somos amigos! E a emoção esteve à flor da pele em diversos momentos. Emoção inclusive por eu ter em diversas vezes questionado e solicitado a ele que não poupasse uma geração que não o conhecia no palco — Lourenço foi para a Europa em início de carreira.
E meus desejos foram atendidos: “… me leva” marca não só o retorno desse profissional aos palcos brasileiros, como é um espetáculo de muita emoção e primor artístico.
Foto: Silvia Machado