De Maurício Mellone em outubro 24, 2012
Um grande sucesso nunca pode ser desprezado e muito menos esquecido. Exatamente isto que motivou o ator, diretor e dramaturgo Miguel Falabella, com o apoio de Sandro Chaim, a retomar seu imenso sucesso dos palcos, A Partilha, que acaba de reestrear no Teatro Shopping Frei Caneca. Para comemorar 20 anos das primeiras apresentações da peça, Falabella chamou de volta Susana Vieira, Arlete Salles, Thereza Piffer (do elenco original) e Patricya Travassos, que substitui Natália do Vale, para encarnarem as quatro irmãs — Regina, Maria Lúcia, Laura e Selma. Elas se revêem no velório da mãe e marcam novo encontro no dia seguinte para combinarem a divisão da herança; a partir daí elas fazem uma reavaliação de suas vidas e reforçam a forte ligação de irmandade entre elas.
O texto de Miguel Falabella é direto, fluente: logo na primeira cena do velório da mãe, o público já toma conhecimento das características de cada uma das quatro irmãs. Selma, vivida por Patricya, é a que cuidou da mãe até a morte e faz questão de “jogar” na cara das outras esta verdade. Ela é casada com um militar, leva o casamento aos trancos e barrancos e acaba de saber que a filha adolescente engravidou de um guru esotérico, o mesmo mentor espiritual de Regina, interpretada por Susana. Ao contrário de Selma, Regina é a descolada, de bem coma vida e, depois de alguns casamentos, prefere ficar solteira. A mais velha, Maria Lúcia (Arlete), vive em Paris depois de ter largado marido e filho por aqui e veio especialmente para o velório e a partilha dos bens. Por último, Laura (Thereza), a caçula, é a intelectual da família, está prestes a defender sua tese na universidade e surpreende as irmãs ao assumir sua homossexualidade.
A divisão dos bens familiares é mero pretexto para que o autor esmiúce a intimidade de cada uma daquelas mulheres: o passado vem à tona, assim como as frustrações, os traumas, as desavenças e, claro, o afeto e a forte ligação amorosa entre as quatro irmãs. Falabella intercala humor, ironia a momentos de intensa emoção — a cena em que Laura confessa a tristeza pela morte de sua amiga (amante) e a falta que sentiu do apoio das irmãs nesta hora é comovente!
A Partilha, que cumpre curta temporada em São Paulo (em cartaz somente até o final de novembro), se destaca mesmo pela perfeita sintonia em cena das atrizes e pela afinidade delas com Falabella, que, além de ter escrito a peça, assina a direção. Ressalto também o cenário prático e funcional de Beli Araújo.
Fotos: Paula Kossatz
2 Comentários
Dinah Sales de Olive
outubro 24, 2012 @ 19:38
Maurício,
Talvez eu precise ver essa peça!!! Quatro irmãs, a morte da mãe e a necessidade de pensar na partilha…
Sua resenha me deu vontade de ir conferir no teatro o que, provavelmente, vou ter de passar muito proximamente.
Sem Miguel Falabella para dirigir a encenação.
Com esse elenco estrelado, a retomada do texto deve ser mais um sucesso.
bjs,
Dinah
Maurício Mellone
outubro 25, 2012 @ 14:33
Dinah, querida:
na ficção, Falabella brinca muito com o enterro
e a partilha dos bens. Esta divisão material
é puro pretexto para um ajuste de vida entre as irmãs.
No seu caso pessoal, acho q há ainda muita dor e pesar
por ser tão recente a perda da sua mãe. E a relação
de vcs, me parece, é de muita afinidade. Mas claro
que quatro irmãs tendo de lidar com A Partilha
vai provocar muita aproximação com a fictícia.
bjs e muito obrigado por sua constante presença por aqui!