De Maurício Mellone em outubro 26, 2012
A peça Chorinho, que proporcionou o prêmio APCA/2007 de melhor autor para Fauzi Arap, está em cartaz novamente, desta vez com Denise Fraga e Cláudia Mello. As sessões, no Teatro Eva Herz, acontecem só às terças e quartas.
Na primeira montagem, Cláudia dividia o palco com Caio Blat. Nesta temporada (a peça já esteve em Curitiba, Belo Horizonte, Florianópolis e Porto Alegre), Denise dá vida à moradora de rua, que observa diariamente a visita da aposentada que cuida das flores e dos pássaros do local. Intrigada, um dia a mendiga quer saber por que a senhora a ignora. Desta primeira conversa cheia de atritos, as duas iniciam uma relação, permeada de discussões, conflitos, confissões e troca de sentimentos.
A direção, dividida entre Marcos Loureiro e Fauzi Arap, marca os encontros das duas mulheres em sete passagens: de uma repulsa inicial e muito preconceito, aos poucos a aposentada vai cedendo e começa a interagir com a mendiga. Por sua vez, a moradora de rua (ela insiste em dizer que mora na praça, não na rua) abomina as convenções sociais, tem ideias libertárias, além de uma sabedoria ímpar. De acordo com Denise, a troca de sexo do mendigo proporciona o espelhamento entre aquelas mulheres.
A peça é um embate verbal cheio de sabedoria, humor e poesia, o que me encanta! Fazer uma personagem tão diferente de você, mas que diz coisas que você gostaria de dizer é muito bom. E é uma delícia estar neste jogo com minha querida Cláudia, uma atriz extraordinária”, confessa Denise Fraga.
Se aparentemente a aposentada e a mendiga são muito diferentes, com o desenrolar da trama o público percebe que ambas vivem situações idênticas, em que a solidão é uma constante na vida delas. As duas vivem no limite entre lucidez e loucura e o autor, com humor e perspicácia, faz com que o espectador reflita: quem é a lúcida e em que momento? O que poderia ser chamado de loucura?
Como é maravilhoso assistir a duas ATRIZES de extrema grandeza, num jogo dramático empolgante, num texto que abre um duelo de ideias e emoções!
A sutileza com que sem uma única palavra, apenas com gestos, as duas personagens se despedem, comove a todos. O único senão, infelizmente, é para a reação da plateia: parece que hoje as pessoas saem de casa para ir ao teatro somente para rir! Fauzi, com Chorinho, apresenta diversas cenas de humor, mas a situação dramática — tanto da aposentada que se vê só e sem saída quanto da mendiga que entra numa crise existencial— é de fundamental importância para o desenvolvimento da trama. Não há razão alguma para risos exagerados e gritos de euforia desnecessários.
No entanto, não é a reação desmedida do público que tira o brilho e o encantamento do espetáculo.
Tivemos o privilégio da batuta de Fauzi Arap e de Marcos Loureiro. Isto é um tesouro precioso. É colher pérolas para serem usadas não só neste trabalho, mas a cada nova empreitada que nosso maravilhoso ofício nos oferecer”, arremata Denise Fraga.
Fotos: João Caldas
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