De Maurício Mellone em setembro 14, 2020
Espetáculos de teatro com plateias presenciais ainda não estão permitidos, já que a pandemia do Covid-19 ainda não terminou. No entanto os artistas estão criando fórmulas alternativas para retomar, aos poucos, suas atividades. É o caso de Martha Meola, que estreou na última sexta o monólogo de Dario Fo e Franca Rame, Uma mulher só, em versão on line.
Sob direção de Marco Antônio Pâmio, o espetáculo foi totalmente concebido para ser apresentado no apartamento da atriz. Com o público em casa, assim como a personagem central da trama, tudo começa com a mulher passando roupa na frente da janela de seu apartamento. Ela se alegra ao perceber a presença da nova vizinha, do prédio da frente, e começa um diálogo aberto e sincero. Nesta adaptação, ela se dirige para a vizinha, falando diretamente para a câmera e os espectadores em casa tornam-se seus confidentes/cúmplices.
No início o público nem desconfia que aquela mulher, em plena atividade doméstica, é na verdade prisioneira do marido: ela está trancada em casa e é obrigada a cuidar dos filhos e do cunhado doente. Ao conversar com a vizinha, ela se empolga, abre o coração e conta seus maiores segredos. Com sutileza, o casal de autores toca em temas delicados e atuais, como o machismo, violência doméstica, mas sempre com humor.
“Com todo o retrocesso que vivemos atualmente, vemos que o tema abordado na peça — escrita na década de 1970 — ainda é muito atual e extremamente urgente. Estamos na quarentena, em uma época de isolamento social e ficar em casa é, de certa forma, estar em um refúgio de segurança. Porém, para muitas mulheres, o que deveria ser um abrigo e um lugar de conforto, é exatamente o seu maior risco”, afirma o diretor Marco Antônio Pâmio.
Retomar hoje o teatro é mais do que louvável: além do entretenimento e das discussões de ideias que o palco propicia, esta volta é essencial para a sobrevivência de todos os profissionais da área cultural. No entanto, a produção teatral on line não é teatro, não é vídeo, não é novela e nem tão pouco cinema. Tanto o público como os artistas precisamos nos adaptar a este novo fazer teatral.
“Esse modelo digital é uma linguagem híbrida e nova ainda. Na minha visão, não é teatro, não é TV e não é cinema. Mas dirigir a Martha, uma atriz de muitos recursos, foi algo muito fácil. E desde o início tinha muito claro na cabeça que queria um resultado próximo do teatro, mesmo apresentando em uma tela”, explica Pâmio.
Com desenvoltura e graça, Martha Meola cria empatia e o espectador, mesmo em casa, torce para que ela se livre daquela situação machista, opressora e violenta. Destaque tanto para a direção geral como para a direção de movimento, que fazem com que a atriz percorra todos os cômodos do apartamento sem se desconectar da câmera, que é o olhar do público. Curta temporada, só mais dois finais de semana. Não perca!
Roteiro:
Uma mulher só
Texto: Dario Fo e Franca Rame. Direção: Marco Antônio Pâmio. Elenco: Martha Meola. Direção de movimento: Marco Aurélio Nunes. Iluminação: Nicolas Caratori. Trilha sonora: Gregory Slivar. Direção de arte: Raphael Gama. Fotografia: Ronaldo Gutierrez. Produção executiva: Marcela Horta. Direção de produção: Selene Marinho e Sergio Mastropasqua.
Serviço:
Horários: sexta e sábado às 20 e domingo às 17h. Ingressos: de R$ 10 a R$ 250 (vendas pelo Sympla link). Duração: 40 min. Temporada: até 27/09/2020.
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