Catálogo do Festival MixBrasil 2010

Numa noite de festa e com o CineSesc lotado, a 18ª edição do Festival MixBrasil de Cinema da Diversidade Sexual teve início ontem com a exibição da produção peruana Contracorrente, estreia do diretor Javier Fuentes-Léon, que foi premiado pelo público do Festival Sundance desse ano.
Antes porém do filme, os diretores do evento André Fischer e João Federici e a curadora Suzy Capó fizeram um breve histórico tanto do festival que ganha sua maioridade e por isso mesmo tem como lema “Aliste-se”, como da edição desse ano que conta com 105 filmes, sendo 34 longas e 71 curtas, de 28 países. André, em seu depoimento, relatou com orgulho a sua felicidade de chegar aos 18 anos do festival, que começou com um resumo do Mix New York e alguns curtas de amigos e hoje é um panorama do que se produz e se discute sobre a questão da diversidade sexual no mundo:
“São sonhos, dramas e fantasias de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e seus simpatizantes de 28 países, desde as duras realidades e preconceito de Mongólia e Cingapura, a surpresas de cinematografias pouco conhecidas como Bolívia, Sérvia e Bahamas, além do melhor dos EUA, França, Inglaterra, Dinamarca e Canadá”.
Um destaque da mostra desse ano também é a efervescente produção sul-americana, com filmes da Argentina, Peru, Uruguai, Chile e Colômbia, países em que a discussão e conquista dos direitos iguais estão em alta; na Argentina foi aprovado o casamento igualitário, no Uruguai a união civil e no Chile, Peru e Colômbia a discussão parlamentar sobre o tema está bem adiantada. Infelizmente aqui no Brasil nossos políticos mantêm nas gavetas do Congresso a legislação sobre igualdade de direitos. Quem sabe a nova legislatura que toma posse em 2011possa nos tirar desse atraso civilista.
Até o dia 18, além dos filmes, o Festival traz ainda bate papos voltados para direção de cenas de sexo, música e literatura, além das diversas festas pela cidade e o esperado Show do Gongo sob o comando Marisa Orth, com os curtas podendo ser inscritos até horas antes do evento; nesse ano o Gongo é na terça, dia 16, no Teatro Gazeta.

Manolo Cardona e Cristian Mercado em Contracorrente

Emoção à flor da pele com o filme peruano
Mas o melhor da noite mesmo foi a apresentação do sensível Contracorrente. O diretor estava presente e agradeceu pelo convite do Festival. A história retrata a vida do pescador Miguel (Cristian Mercado), que mesmo apaixonado pela esposa Mariela (Tatiana Astengo) que espera o primeiro filho do casal, vive um tórrido caso de amor com o artista plástico Santiago (Manolo Cardona). A pacata vila de pescadores aos poucos se transforma quando o secreto e apaixonado affair entre Miguel e Santiago vem à baila. Até então Miguel era respeitado por todos da comunidade, que passam a desprezá-lo. A fotografia do filme é deslumbrante e revela a paradisíaca costa peruana, pouco conhecida dos brasileiros, palco das cenas mais emocionantes, tanto do romance de Miguel e Santiago como do ritual local, em que os mortos são devolvidos ao mar para que suas almas se libertem.
O tom sobrenatural que o enredo se transforma e o desfecho final do triângulo amoroso vivido pelo pescador provocam muita emoção.
O filme de Javier Fuentes-Léon em muito me lembrou o israelense Pecado da Carne, exibido por aqui no ano passado: no conservador e fechado mundo dos judeus ortodoxos, o açougueiro, pai de família, que se apaixona pelo seu ajudante, teve que lutar muito para assumir sua sexualidade e sua história de amor. A mesma luta travada internamente pelo pescador Miguel e o conservadorismo da aldeia peruana são o mote propulsor de Contracorrente.
Pela pequena mostra da estreia, vamos ter uma gama de emoções com o MixBrasil! Parabéns André, João e Suzy. Já me alistei e estou nessa luta pela conquista dos DIREITOS IGUAIS.