De Maurício Mellone em abril 7, 2014
O diretor Paulo Morelli, sócio de Fernando Meirelles na produtora O2 Filmes, acaba de lançar seu mais recente longa metragem, Entre Nós. Desta vez Paulo assina o roteiro e divide a direção com seu filho Pedro Morelli; a trama se passa em dois momentos: primeiro em 1992, quando sete amigos (promissores escritores) passam um final de semana na casa de campo da família de Silvana, vivida por Maria Ribeiro. Depois de muita diversão, eles resolvem que cada um deve escrever uma carta sobre o que esperam do futuro; enterram os bilhetes numa caixa, que deve ser aberta dez anos depois. Um acidente ocorre no mesmo dia, matando Rafa (Lee Taylor) e o grupo só se reencontra em 2002, na mesma casa, quando devem abrir a caixa e revelar o teor das cartas. O rumo que cada um deu para a vida é o que move este segundo encontro.
O filme começa com o grupo de amigos em perfeita harmonia e descontração, num final de semana que promete: os casais Lucia e Gus, interpretados por Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena, e Drica e Cazé (Martha Nowill e Julio Andrade) não se desgrudam, tanto que Felipe, vivido por Caio Blat, reclama, mas aproveita para curtir estes momentos ao lado de Rafa e Silvana. Os dois rapazes são muito íntimos e ambos estão terminando seus primeiros livros; como a bebida acaba, eles resolvem abastecer a festa indo até a cidade. No caminho, sofrem um terrível acidente e Rafa não sobrevive.
Corte na história e o ambiente é a mesma casa de campo, dez anos depois. Silvana recepciona os amigos que estão chegando: lá já estão Drica e Cazé, que se casaram, e o outro casal acaba de estacionar o carro: descem Lucia e Felipe. Cazé, além de ter se tornado um feroz crítico literário, é o chef do grupo. Quando todos estão quase indo para a mesa, chega Gus, rebocado por um guincho. Há um certo constrangimento na recepção (Lucia só acena para o antigo namorado), mas logo estão todos se confraternizando.
No entanto, as transformações que a vida provocou em cada um deles vêm à tona e os conflitos começam a transparecer. A morte de Rafa também perturba a todos. Drica ama o marido e quer muito um filho, mas não se conforma que Cazé abomina a ideia da paternidade. Gus revela sua frustração profissional e emocional (ainda é apaixonado por Lucia). O conflito maior, entretanto, é vivido por Felipe: bem casado, pai de um garotinho e com o sucesso da publicação de seu primeiro livro, ele esconde um mistério que, se vir à tona, modificará o rumo de todo aquele grupo. Ao abrir a caixa dos velhos bilhetes, a trama desencadeia uma série de contratempos.
Traições, desamor, falta de ética, desilusão com os ideais e princípios defendidos da juventude, frustração profissional e desencanto diante da vida. Estes os ingredientes que marcam o reencontro destes velhos amigos. Numa locação deslumbrante, as imagens envolvem o espectador desde a primeira tomada; os diretores usam do recurso de alternar foco e imagem desfocada, o que evidencia o estado interior nebuloso de cada um dos personagens. A identificação do espectador com eles é inevitável. Em diversos momentos a história me emocionou profundamente.
Com uma trilha sonora primorosa (as canções ajudam a montar o mosaico histórico da trama), Entre Nós é uma das grandes produções do ano. Como adorei a trilha, fecho esta resenha com a canção Na Asa do Vento (Luiz Vieira e João do Vale), interpretada por Caetano Veloso no LP Joia de 1975, que também encerra o filme.
Fotos: divulgação
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