De Maurício Mellone em janeiro 9, 2017
Natália Lage, Daniel Costa, Fabricio Licursi e Arieta Corrêa protagonizam peça sobre Jacqueline Du Pré
Que alegria começar o ano postando a primeira resenha teatral sobre um espetáculo sensível e de extrema humanidade! Depois de se apresentar por duas semanas em dezembro, está de volta ao SESC Consolação até o final de janeiro o espetáculo Jacqueline, com texto e direção de Rafael Gomes, sobre a vida da violoncelista britânica Jacqueline Du Pré, vivida por Natália Lage.
O autor, também responsável pela direção, define este trabalho como uma peça-concerto, já que estruturou a trama baseado nos movimentos da obra que marcou a carreira da musicista, o Concerto para violoncelo e orquestra em mi menor Opus 85, de Edward Elgar. Além de trazer ao conhecimento do público a comovente história de vida de Jacqueline — uma mulher que desde pequena revelou seu talento para a música, viveu as glórias do sucesso ao lado do marido e morreu vítima de esclerose múltipla, aos 42 anos —, a peça discute a profunda relação de duas irmãs: Jacqueline e Hilary, vivida por Arieta Corrêa, separadas pelo destino, mas que sempre estiveram unidas no amor. Completam o elenco Daniel Costa e Fabricio Licursi.
O prólogo da peça é com o encontro entre Hilary e seu cunhado, interpretado por Daniel Costa, após a morte de Jacqueline. Mais do que cobranças e desavenças, ambos refletem sobre a perda precoce de uma talentosa e sensível criatura. A partir daí a trama tem idas e vindas no tempo para contar a triste história daquela mulher, que desde muito pequena revelou seu talento e aos 16 anos fez sua estreia profissional. O sucesso foi avassalador ao lado do maestro e marido, tanto que ofuscou a carreira da irmã, que abandonou a flauta e a música e foi viver no campo com seu marido (Fabricio Licursi). A ligação entre Jacqueline e Hilary sempre foi intensa, tanto que a violoncelista quando esteve em crise abandonou os concertos para se refugiar na casa da irmã, que já tinha quatro filhos. A doença logo apareceu e Jacqueline aos 28 anos foi perdendo os movimentos, quando deixou os palcos, até sua morte, 14 anos depois, quando nem mais falava.
Com um enredo muito bem arquitetado, Rafael consegue envolver o espectador desde a primeira cena. Mais do que a trajetória da violoncelista, a peça traz à tona outras questões que envolvem a todos nós, como melhor conciliar a vocação, destino e profissão, as escolhas na vida, o amor, a maternidade e os verdadeiros laços afetivos entre as pessoas. A forma como o autor entrelaça os diálogos entre os dois casais foi o que mais me chamou a atenção. Outro grande destaque é para o cenário de André Cortez, que praticamente é o quinto personagem da peça (um grande tablado articulado no chão que os atores vão movimentando em função da evolução da narrativa). E a perfeita sintonia entre os quatro atores deixa o espetáculo ainda mais coeso e contundente, com destaque para a sensível performance de Natália e Arieta.
Fotos: Laura Del Rey
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