De Maurício Mellone em agosto 22, 2013
Não há nada melhor para uma atriz do que comemorar 55 anos de carreira em plena atividade, interpretando diversos personagens de uma única peça! Esta emoção e alegria que Miriam Mehler vem experimentando: a atriz acaba de estrear, no SESC Pinheiros, o monólogo Oscar e a Senhora Rosa, do dramaturgo francês Eric-Emmanuel Schimitt, em que vive não só o garotinho Oscar e Rosa que o visita no hospital diariamente, como os pais do menino, os médicos, enfermeiros e as outras crianças que também estão internadas na unidade hospitalar.
Com um único figurino (jardineira infantil e um boné, em tons pastéis), Miriam pula de um personagem a outro somente com modulação da voz e aos poucos ganha a plateia, graças ao enredo simples e de extrema delicadeza e emoção.
Com tradução, adaptação e direção de Tadeu Aguiar, Oscar e a Senhora Rosa é encenada pela primeira vez no Brasil, tendo sido apresentada na França, nos Estados Unidos e atualmente na Alemanha. Como nas montagens estrangeiras, aqui Miriam é a única intérprete da história comovente de Oscar, um garoto de 10 anos que é obrigado a se submeter a um transplante de medula como tentativa de cura de um câncer. Infelizmente a cirurgia não consegue reverter o avanço da doença e não há nada mais a se fazer. Mesmo sendo um tema traumático, o autor conduz a história de maneira leve, sempre do ponto de vista do menino.
O marcante da trama é a relação de intimidade e franqueza entre Oscar e Rosa, uma senhora que visita os pacientes para animá-los. Ela não mente para o garoto, o que estabelece a confiança entre eles. Rosa em suas visitas diárias faz duas sugestões a Oscar: a primeira que ele envie cartaz a Deus relatando seu dia-a-dia e a segunda que ele pode vivenciar todas as experiências de uma vida no tempo que lhe resta. Meio reticente no início, Oscar se entusiasma e passa a escrever diariamente, de peito aberto, criando um elo de amizade com Deus. Em cada carta o garoto imagina ter uma idade e assim chega à adolescência, namora uma coleguinha do hospital, vive a fase adulta e envelhece.
“Fiquei encantada com o texto desde que li pela primeira vez, é quase real e muito comovente. Aprendi com o Oscar que cada dia é um dia e temos que viver intensamente”, confessa Miriam Mehler.
O autor escreveu este texto inspirando-se na própria infância: ainda pequeno, acompanhava o pai, um fisioterapeuta, que atendia crianças nos hospitais. Por isto que na trama a morte é encarada como algo natural e próxima e hospital pode ser um local de convivência.
Além de texto emocionante e a direção sensível de Tadeu Aguiar, o grande destaque de Oscar e a Senhora Rosa é a atuação de Miriam Mehler, que cativa o espectador desde a primeira cena. Um espetáculo em que a atriz comemora seus 55 anos dedicados à arte de interpretar e cujo presente é justamente para o público!
Não perca, mas fique atento, a peça é apresentada somente sextas e sábados, às 20h30.
Fotos: Gustavo Bakr
Deixe comentário