De em maio 23, 2012
João Paulo Lorenzon acaba de estrear no SESC Consolação, Espaço Beta, o monólogo Eu vi o Sol brilhar em toda a sua glória, seu segundo trabalho que tem como cerne o universo do escritor argentino Jorge Luis Borges. Em 2008 o ator encenou Memória do Mundo, que focava a solidão como fonte de prazer e criatividade. Desta vez Lorenzon dedicou-se durante dois anos à pesquisa sobre a vida e a obra de Borges e no monólogo, baseado em imagens de contos, poemas e dados biográficos do escritor, ele propõe uma reflexão sobre a memória e o esquecimento, a luz e a cegueira, o sonho e a realidade, sobre as perdas e, principalmente, sobre a vida e a morte, temas bem comuns ao universo borgeano.
Ao entrar na sala de espetáculo, o espectador é conduzido a experimentar sensações; na penumbra, as pessoas precisam caminhar entre blocos de concreto até chegar às cadeiras. A pouca iluminação, em seguida, é apagada para que o ator inicie sua fala. O breu coloca o espectador na mesma condição da cegueira, que Borges vivenciou durante anos, até sua morte. Fiz questão de fechar os olhos para intensificar a experiência proposta pela montagem: a poesia e o clima de introspecção do autor calam fundo graças à voz potente e expressiva de Lorenzon.
Sonhamos com o que esquecemos’
O texto criado pelo ator — que recebeu a supervisão do crítico literário Davi Arrigucci Jr — é baseado nos contos A Escrita do Deus, O Imortal e As Ruínas Circulares. Além de viver Borges — a cena em que ele de bengala vai tateando os blocos de concreto do cenário emociona — Lorenzon interpreta personagens criados pelo escritor:
Este homem no palco pode ser Borges, mas também seu personagem, assim como os outros que virão: Beatriz, Argos, o troglodita ou Demócrito de Abdera, todos presentes na obra do escritor”, explica o ator.
A profundidade da obra borgeana e o vigor com que Lorenzon imprime em casa cena atingem o espectador de maneira avassaladora. A iluminação, assinada por Lúcia Chedieck, funciona como elemento intrínseco à narrativa. Outro destaque é a trilha sonora de Manuel Pessoa que contribui para compor o clima do universo de Borges.
No entanto, João Paulo Lorenzon merece todos os louros. Em Eu vi o Sol brilhar em toda a sua glória o ator é o responsável pela pesquisa, criação do texto e pela interpretação visceral e envolvente. Saí do espetáculo muito impactado e precisei redigir, ainda no teatro, algumas referências para esta resenha. O espetáculo permanece em cartaz até o dia 25 de junho, não perca!
Nós somos o que perdemos’
Fotos: Maurizio Mancioli
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