De Maurício Mellone em abril 25, 2018
Escrita em 1967 pelo dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, a peça O Arquiteto e o Imperador da Assíria acaba de completar o cinquentenário de sua publicação. Para comemorar a data, o diretor Léo Stefanini traz à cidade a sua versão: a montagem está em cartaz no Teatro Jaraguá e conta no elenco com Eduardo Silva, na pele do nativo, e Rubens Caribé, como o sobrevivente de um acidente aéreo. O texto — com forte viés do teatro do absurdo, em que o real se mistura com o imaginário — narra a convivência, numa ilha deserta, entre um homem primitivo e outro vindo do mundo civilizado. O passar do tempo e a troca de experiência entre eles provocam no espectador a dúvida de quem é o nativo e quem é o dito civilizado.
Com o belo cenário de Chris Aizner que reproduz uma ilha contemporânea, bem poluída, a trama tem início com o nativo sendo surpreendido com o acidente aéreo e o único sobrevivente pedindo socorro. Corte e a cena subsequente, tempos depois, já mostra a adaptação do Imperador e sua tentativa de dominar o nativo, que por sua vez tem poderes junto à natureza (se comunica com os animais e com o meio ambiente).
Com uma linguagem recheada de metáforas, durante os dois atos da peça os personagens tanto se aproximam como entram em atrito, alternando as posições de dominador e dominado, até culminar com o julgamento (totalmente surreal) do Imperador arquitetado pelo homem primitivo.
No criativo programa da peça, o tradutor do texto fala da atualidade da montagem:
“Bastante oportuna a montagem dessa peça nos tempos que correm, considerando que estamos experimentando um vazio de sentidos e uma crise do pensamento e de identidade. Há ainda uma série de jogos que colocam o homem primitivo e o civilizado num mesmo plano, embora separados pela capacidade de compreender o mundo ou pela tentativa de dar-lhe um significado”, argumenta Wilson Coêlho.
Além do texto provocativo, a montagem merece destaque pelo cenário bem elaborado, pela iluminação de Wagner Pinto e pelos figurinos de Marichilene Artisevskis. Assisti ao espetáculo na estreia e senti que o ritmo em cena entre Rubens Caribé e Eduardo Silva ainda não estava devidamente ajustado. No entanto a temporada segue até julho e, como se trata de atores talentosos e experientes, esta sintonia cênica logo chegará.
Roteiro:
O Arquiteto e o Imperador da Assíria. Texto: Fernando Arrabal. Tradução: Wilson Coelho. Direção: Léo Stefanini. Elenco: Rubens Caribé e Eduardo Silva. Cenário: Chris Aizner. Iluminação: Wagner Pinto. Trilha sonora: Raul Teixeira. Figurino: Marichilene Artisevskis. Fotografia: Felco. Produção: Léo Stefanini, Adriana Grzyb e Fulvio Filho. Realização: Cora Produções.
Serviço:
Teatro Jaraguá (276 lugares), Rua Martins Fontes, 71, tels. 11 3255-4380. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e domingos às 19h. Ingressos: R$ 50 e R$ 25. Duração: 80 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 1º de julho.
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